Nas minhas conversas
com estudantes de publicidade de todo o país, um dos temas de que mais
me utilizo para prender a atenção, entender e ser entendido por esses
futuros profissionais de propaganda é a importância das marcas na vida
das pessoas e das pessoas na vida das marcas. Nessas conversas, o que se
percebe é que, para eles, o produto ou serviço oferecido pouco significa
porque a marca é tudo. A verdade é que, como seres humanos,
instintivamente pensamos primeiro na marca, porque quem tem o
encantamento é ela, e o encantamento é o que faz a diferença em tudo nas
nossas vidas. O produto ou serviço, por melhor que sejam, vêm depois.
Exemplos
como um certo amido de milho, embalado numa caixa amarela, que nos
alimentou desde a mais tenra idade, ou uma certa pomada, que já combateu
assaduras nas bundinhas da grande maioria de nossas crianças, são duas
marcas muito fortes: cultivadas, amadas e respeitadas por todos: Maizena
e Hipoglós. Muito mais do que o amido e a pomada, ambas as marcas estão
organicamente inseridas na vida de todos. O mesmo acontece com Gilette,
Coca Cola, Brahma, Volkswagem, Ford, Esso, Omo e milhares de outras que conservam seus nomes e as características que as tornaram tão
importantes e mesmo parte da vida das pessoas.
Agora,
saindo de produtos e entrando no setor de serviços, fica claro que essa
importância é bem maior, porque quando uma empresa é vendida, sua marca
geralmente é eliminada e vai parar numa vala comum. Lembra de Banespa,
Varig, Unibanco, Panam, Le Petit, Cruzeiro, Atlantic e outras? O que
sobra é apenas uma grande tristeza naqueles que usaram e conviveram com
elas. Eu, por exemplo, morro de saudades da marca Varig cada vez que me
oferecem o lanche nos voos das marcas TAM e GOL.
Na
área de publicidade, então, a coisa se torna mais triste ainda. A Grant
Advertising, uma empresa que muito colaborou para o desenvolvimento
dessa atividade em nosso país, teve seu nome mudado para Coscom e
morreu pouco tempo depois. Também, com um nome desses, ninguém
aguentaria. Mas tivemos outras agências como Salles, Norton, Lintas,
Denison, Panam, Orion, PA Nascimento, Proeme e outras que criaram
campanhas memoráveis e formaram os mais criativos profissionais da
publicidade brasileira. Essas marcas de agências que foram e ainda são
verdadeiras referências de gerações de publicitários acabaram sendo
eliminadas como se nem tivessem existido.
Uma grande injustiça.
É
como se enterrássemos, numa vala comum, grandes nomes e referências
como Barão do Rio Branco, Mauá, Rui Barbosa, Winston Churchill, Elisete
Cardoso, Frank Sinatra, Tom Jobim, Caio Domingues, Renato Castello
Branco, Victor Hugo, Balzac, Voltaire, Neruda, Saramago e outros...
Neste
momento, estamos em 8 de julho de 2013, por amor ao meu ofício de
publicitário, penso em duas marcas. Duas das melhores agências da
propaganda brasileira de todos os tempos que foram vendidas
recentemente, duas referências que, espero, não sejam eliminadas e
lançadas numa vala comum.