segunda-feira, 8 de julho de 2013

O homem e a marca

Nas minhas conversas com estudantes de publicidade de todo o país, um dos temas de que mais me utilizo para prender a atenção, entender e ser entendido por esses futuros profissionais de propaganda é a importância das marcas na vida das pessoas e das pessoas na vida das marcas. Nessas conversas, o que se percebe é que, para eles, o produto ou serviço oferecido pouco significa porque a marca é tudo. A verdade é que, como seres humanos, instintivamente pensamos primeiro na marca, porque quem tem o encantamento é ela, e o encantamento é o que faz a diferença em tudo nas nossas vidas. O produto ou serviço, por melhor que sejam, vêm depois.
Exemplos como um certo amido de milho, embalado numa caixa amarela, que nos alimentou desde a mais tenra idade, ou uma certa pomada, que já combateu assaduras nas bundinhas da grande maioria de nossas crianças, são duas marcas muito fortes: cultivadas, amadas e respeitadas por todos: Maizena e Hipoglós. Muito mais do que o amido e a pomada, ambas as marcas estão organicamente inseridas na vida de todos. O mesmo acontece com Gilette, Coca Cola, Brahma, Volkswagem, Ford, Esso, Omo e milhares de outras que conservam seus nomes e as características que as tornaram tão importantes e mesmo parte da vida das pessoas.
Agora, saindo de produtos e entrando no setor de serviços, fica claro que essa importância é bem maior, porque quando uma empresa é vendida, sua marca geralmente é eliminada e vai parar numa vala comum. Lembra de Banespa, Varig, Unibanco, Panam, Le Petit, Cruzeiro, Atlantic e outras? O que sobra é apenas uma grande tristeza naqueles que usaram e conviveram com elas. Eu, por exemplo, morro de saudades da marca Varig cada vez que me oferecem o lanche nos voos das marcas TAM e GOL.
Na área de publicidade, então, a coisa se torna mais triste ainda. A Grant Advertising, uma empresa que muito colaborou para o desenvolvimento dessa atividade em nosso país, teve seu nome mudado para Coscom  e morreu pouco tempo depois.  Também, com um nome desses, ninguém aguentaria. Mas tivemos outras agências como Salles, Norton, Lintas, Denison, Panam, Orion, PA Nascimento, Proeme e outras que criaram campanhas memoráveis e formaram os mais criativos profissionais da publicidade brasileira. Essas marcas de agências que foram e ainda são verdadeiras referências de gerações de publicitários acabaram sendo eliminadas como se nem  tivessem existido.
Uma grande injustiça.  
É como se enterrássemos, numa vala comum, grandes nomes e referências como Barão do Rio Branco, Mauá, Rui Barbosa, Winston Churchill, Elisete Cardoso, Frank Sinatra, Tom Jobim, Caio Domingues, Renato Castello Branco, Victor Hugo, Balzac, Voltaire, Neruda, Saramago  e outros...
Neste momento, estamos em 8 de julho de 2013, por amor ao meu ofício de publicitário, penso em duas marcas.  Duas das melhores agências da propaganda brasileira de todos os tempos que foram vendidas recentemente, duas referências que, espero, não sejam eliminadas e lançadas numa vala comum.