quinta-feira, 10 de março de 2011

As pessoas enchem a cara e a culpa é da propaganda

De quem é a culpa? Eu só queria entender.

Mais uma vez venho a público falar da repetição de uma frequente injustiça que se comete contra minha atividade, a propaganda. A notícia publicada na Folha de S. Paulo, no último dia 12 [ago/2010], informa que "o Instituto Alana, o IDEC – Instituto de Defesa do Consumidor e duas outras ONGS, (sic) apoiam o Ministério Público numa ação no valor de quase R$ 3 bilhões contra três fábricas de cervejas, por terem essas indústrias causado danos irreparáveis à população, em razão do grande consumo de álcool gerado pela publicidade excessiva".

Um texto com esse teor acaba trazendo no seu bojo, ainda que inocentemente, o apoio e o respaldo da credibilidade do jornal que o publica.

Nunca atendi conta de bebidas e muito menos tenho procuração para defender empresas como Ambev, Schincariol, Femsa e outras fábricas de cervejas. Sou publicitário, trabalho nessa atividade há mais de 50 anos e tenho, isso sim, o dever de defendê-la contra absurdos como esse, porque só não enxerga quem não quer enxergar, que o problema do consumo excessivo de bebidas, tabaco, cosméticos, brinquedos, guloseimas, automóveis, remédios e tantos outros produtos legalmente fabricados, mas condenados como causadores dos males do mundo, não é provocado pela propaganda, mais pela falta de educação ou, melhor dizendo, pela educação de péssima qualidade que o nosso país sempre ofereceu à sua população.
Como não entendo certas coisas que acontecem nesta nossa pátria amada, gostaria de fazer uma pergunta a esses institutos e ministérios: se produtos como esses são tão nefastos à saúde da nossa população, por que o Estado, tão zeloso como é, permite que continuem sendo fabricados?

Eu só queria entender.

Publicado no Jornal Propaganda & Marketing em 16 de agosto de 2010.

segunda-feira, 7 de março de 2011

O preço da dignidade

Um dos primeiros clientes da pequena agência que montei com uma amiga, a Mutirão de Profissionais de Propaganda, foi a Ática a maior editora de livros didáticos do país, para quem fizemos anúncios memoráveis. Foi uma relação de muito respeito, amor e confiança, mas como no aspecto comercial não há amor que dure sempre, a editora foi vendida e então, o célebre “agora sob nova direção” parou tudo. Nunca mais se viu um anúncio com a sua marca.
Em compensação, nossa experiência com esse tipo de cliente fez com que outra editora, sabendo que já não estávamos com a grande concorrente, nos procurasse para entregar sua conta. Foi uma negociação dificílima: havia um diretor que não conversava em outros termos que não fossem: finanças, custos, descontos etc., etc. Era reunião pra lá, reunião pra cá e nada se definia, porque o homem achava que não deviam pagar criação e com muito favor, aceitariam trabalhar conosco se baixássemos nossos honorários de veiculação em 50%, ou mais. É claro que não topamos, e nem toparíamos: pela falta de ética, pela falta de vergonha, por respeito ao nosso ofício e finalmente, porque foram eles que “encostaram o umbigo em nosso balcão” e não nós no deles.
Acho que pelo fato de nos terem procurado, somente por isso, o homem resolveu aceitar nossas condições e nos encaminhou para o setor de vendas que também respondia pela propaganda, e como primeiro trabalho, nos passaram uma urgente lição de casa: um anúncio em homenagem aos escritores no "Dia do Escritor". Um briefing simples e lacônico: “é preciso valorizar o Escritor, porque é daí que vem o nosso ganha pão”. Nós completamos com educação, cultura e saber.
Criamos um ótimo anúncio (modéstia à parte), cujo título era um trecho do poema "O livro e a América” de Castro Alves:

“Oh bendito o que semeia livros, livros a mancheias e manda o povo pensar..."

Brilhante ideia, porque semear livros a mancheias e fazer o povo pensar, além de ser um dever de cada um é o verdadeiro papel do escritor, dos livreiros e das editoras... Conscientes disso e com toda aquela empolgação de agência nova, fomos apresentar o trabalho para o pessoal de vendas. Eles vibraram com a peça, mas tiveram que chamar um diretor para ajudá-los a tomar a decisão e não deu outra. Quem veio? Aquele diretor que queria cortar nossos honorários. Era o homem do dinheiro e também da palavra final.
O que não sabíamos era que ali estava um racista daqueles de filme da Ku Klux Kan, antissemita e defensor intransigente do III Reich, do Santo Ofício, do Apartheid, anticomunista até a medula, era quem diria se a empresa faria ou não o anúncio. Após nossa reapresentação, durante a qual ele não moveu um único músculo da dura face, puxou o texto de minha mão, dando uma lida bem superficial e, com uma expressão iradíssima e a voz rouca de ódio, sentenciou: “esse poeta de merda, proxeneta e comunista, dava o rabo para os negros e corria atrás das negras, por isso os defendia com tanta convicção...". E mais: "Nossa empresa jamais assinará um anúncio como este, enquanto eu for vivo e diretor dela. Façam coisa melhor, se quiserem nossa conta".
Nossa frustração foi grande. Só não foi maior, porque aproveitamos a oportunidade e descendo ao seu nível, mandamos que enfiasse sua editora no rabo, e nos despedimos em quase ritmo de Castro Alves:

“vossa senhoria, que com sua miopia,
fala sobre o que não leu, fala sobre o que não viu,
pois que poeta safado
proxeneta e comunista é a puta que o pariu...”

Vale lembrar que o homem era mulato claro, beirando a branco e quisesse ele ou não, um ilegítimo descendente do povo negro a quem o grande poeta dedicou seu verbo, sua verve e sua vida.

Perdemos o cliente, mas mantivemos a dignidade.

Publicado no site UMA COISA E OUTRA (http://www.umacoisaeoutra.com.br) e noutros sites culturais

sexta-feira, 4 de março de 2011

Grandes líderes nunca morrem

Profissionais como Ítalo Bianchi, Caio Domingues, Otto Scherb, Emil Faraht e outros não morrem e não morreram, porque seus exemplos de amor e dedicação ao ofício ficaram aqui, norteando a vida daqueles que acreditam que nossa profissão tem que ser "tocada" com ética, seriedade e profissionalismo em tempo integral.

No dia 26 de novembro de 2008, na cidade do Recife, falávamos para um auditório repleto de estudantes das Faculdades Maurício de Nassau sobre o IV Congresso Nacional de Publicidade e de como os Congressos anteriores nos legaram o que temos de melhor na propaganda brasileira.
O objetivo principal daquela nossa palestra (prefiro conversa, porque não gosto de ser chamado de palestrante, pois não tenho competência para tanto) era lhes contar o que aconteceu no IV Congresso e procurar mostrar para os jovens profissionais que vão “tocar” o negócio da propaganda no futuro, que eles também têm uma grande responsabilidade de trabalhar pela viabilização de teses como liberdade de expressão, o papel da propaganda na sustentabilidade socioambiental, qualificação profissional, valorização regional da propaganda, a importância de conviver e aprender a usar adequadamente as novas mídias que aparecem a todo instante e muitos outros aspectos sobre os quais os jovens profissionais não podem descurar, como a dedicação ao ofício, o respeito aos princípios éticos e o profissionalismo em tempo integral, sem os quais a propaganda corre o risco de sofrer um desmanche e passar a ser nivelada com profissões e atividades antigas, pouco ou nada qualificadas.
Procuramos mostrar-lhes o exemplo dos grandes profissionais que trabalharam o tempo todo para ajudar a viabilizar as propostas dos congressos anteriores, como a criação do Conar, IVC, Lei 4680, Código de Ética dos Profissionais de Propaganda e tantas outras, que colocaram a nossa atividade entre as melhores do mundo, incluindo na lista dos heróis responsáveis por tudo isso, e muito merecidamente, o nome de Italo Bianchi e o que ele representou para o desenvolvimento da propaganda, não só de Pernambuco, mas de todo o Brasil.
Italo morreu? Não Morreu não... Porque homens como Ítalo Bianchi, Caio Domingues, Castelo Branco, Otto Scherb, Gerard Wilda, R. Lima Martensen, L.Celso Piratininga, Armando D’Almeida, Marcus Pereira, Carlito Maia, e tantos outros grandes profissionais jamais morrem, porque o seu exemplo de profissionalismo e amor ao ofício de publicitário ficou aqui para ser usado pelas futuras gerações.
O Italo, ultimamente, entre outras atividades, dava consultoria e aulas de História da Arte nas Faculdades Mauricio de Nassau.
Não foi preciso pedir duas vezes: a salva de palmas daquela plateia foi uma grande homenagem da futura propaganda brasileira a Italo Bianchi, um autêntico pernambucano, nascido em Milão, Itália, que no dia 5 de outubro de 2008 nos deixou, muito antes do combinado.

Publicado em Propaganda e Marketing, dez. 2008

Qual a influência da propaganda no consumo de bebidas alcoólicas na adolescência e juventude?

Em julho/agosto de 2007 O Jornal do Brasil publicou uma série de entrevistas sobre esse tema e a mim coube a pergunta acima, que já respondi muitas vezes para vários meios de comunicação. Por isso me permito responder agora de uma forma diferente da que tenho feito normalmente. Então pergunto.

O que a sociedade oferece hoje para as nossas crianças, adolescentes e juventude?

Todos sabemos o que ela não oferece, que são os direitos básicos assegurados pela Constituição, mas vou citar apenas alguns desses direitos, para não me tornar prolixo e tedioso, pois essa questão é sobejamente discutida em quaisquer programas de televisão, rádio, jornal, no metrô, no ônibus, no trabalho, no restaurante, no café e até entre as famigeradas torcidas de futebol.

A sociedade não oferece em escala minimamente nescessária:

Alimentação – Não basta ter um prato de arroz, feijão e farinha. É fundamental ter os elementos básicos que transformam a alimentação em energia para a vida e dentre os elementos faltantes, podemos incluir não só a comida, mas um outro que é extremamente importante: uma família estruturada, para comer junto, ou no mínimo ter um adulto para preparar a alimentação de crianças que ficam confinadas num cubículo de favela entregues à própria sorte ou mesmo num palácio, mas nesse caso, entregues a gente sem a menor qualificação profissional.

Saúde – Mãe deprimida, pai desempregado e alcoolatra. Nesse caso o problema passa a ser genético e beber e fumar, para uma crianç,a é parte integrante de seu sangue e de sua vida. Com o trabalho da mãe pagam INSS, mas necessitariam ter um convênio dos mais baratos possíveis, para que fossem razoavelmente atendidos nessa necessidade básica e garantida pela Constituição Brasileira.

Moradia – o saudável para uma família, seria aplicar no máximo 25% de sua receita em moradia, mas na verdade, esse importante insumo consome mais de 60% da renda. E aí tome favela, ou outra submoradia qualquer, porque, ou come ou se esconde: da noite, do frio, da chuva, do ladrão.

Transporte – Os órgãos municipais de todo o Brasil garantem transporte gratuito para crianças e adolescente que morem a uma certa distância da escola, só que os equipamentos e a frota de ônibus, geralmente em péssimas condições, não comportam o número de alunos. Isso sem contar uma maioria de motoristas totalmente despreparados para transportar seres humanos, crianças, principalmente. E o que acontece é que dentre de uma legião de crianças esse motorista acaba escolhendo quais leva e quais não leva para a escola.

Segurança – O volume de crimes contra crianças e adolescentes aumenta diuturnamente de forma assustadora. É só ver os casos de pedofilia, estupro, infiltração de criminosos nas instalações da escola e o descaso de quem deveria cuidar de coibir isso. O que o Estado pode fazer para equacionar o problema?

Educação – Considerando que a educação começa em casa e é completada pelo ensino na escola, como é que alguém envolvido num contexto como esse está preparado para aprender ou mesmo para ensinar alguma coisa?

Resumindo: os problemas relacionados à alimentação, saúde, moradia, transporte, segurança e educação, para citar só esses, não são infortúnios apenas dos menos favorecidos financeiramente, mas de todos, pois em algum momento, acabam pagando um preço alto por esse abandono.

Mas a pergunta era sobre a influência da propaganda nos males da bebida...

Considerando tudo isso, ouso afirmar com a mais absoluta segurança que, ainda que a propaganda pudesse influenciar nesse sentido, não sobraria espaço para ela, uma vez que o descaso e a impunidade que grassam no país já se incumbiram de prestar esse e outros desserviços.

Ainda falando sobre propaganda, um outro aspecto que não podemos deixar de considerar é que o Estado, através de seus órgãos censores ou controladores, sempre procura imputar à propaganda a culpa pelos males da bebida, do fumo e de outras mazelas da humanidade, quando na verdade o Estado deveria, já que tais produtos são tão nocivos à saúde da população, criar coragem para proibir sumariamente sua fabricação.

Uma última pergunta: O Estado teria coragem de abrir mão das polpudas taxas arrecadadas a todo instante, em cada tragada no cigarro, ou em cada gole de bebida?

Encerrando, eu só gostaria que não imputassem à propaganda, a culpa por tudo isso.

Publicado no Jornal do Brasil, em série de artigos publicados entre julho e agosto de 2007

Nossos problemas e as entidades atentas

Criticar e condenar os outros é muito fácil. Difícil é arregaçar as mangas e fazer alguma coisa. A maior parte dos nossos problemas não se resolve, basicamente, por falta de ações de cada um de nós para resolvê-los. Para a maioria dos nossos críticos, é mais fácil ficar parado e deixar que as coisas aconteçam para ver como é que ficam.

Nossos problemas são muitos e têm solução. É só não esmorecermos, não cruzarmos os braços e ficarmos esperando por milagres que sabemos, de antemão, não vão acontecer. Estamos todos engajados numa luta permanente em busca de soluções para a nossa imensa carga de problemas. No entanto, o que mais nos atrapalha são as cobranças, na sua maioria injustas, vindas do nosso próprio meio. Todo dia aparece um novo cobrador de atitudes: é gente que diz que as entidades não se movimentam, que não estão fazendo nada e que este ou aquele problema não tem mais solução e o que resta, segundo sua pusilânime opinião, é esperar sentado que um primeiro feche a porta, porque não tem mais salvação.
Gente que pensa assim só pensa assim. Só sabe cobrar e criticar; agora, meter a mão na massa e ajudar a fazer alguma coisa, nem pensar!
Apenas para dar uma ideia daquilo que as nossas entidades andam fazendo em termos de luta e, falando não apenas em nome da Fenapro onde trabalho, mas também no de outras, que tenho certeza, não estão de braços cruzados esperando alguém fechar a porta, ouso afirmar, sem nenhum medo de errar, que neste momento temos várias ações de combate à carga tributária que assola o País e mutila o nosso negócio. Estamos enfrentando a ação de um prefeito que propõe eliminar o serviço de agências para a prefeitura de sua cidade, varrendo do mapa as agências como se fôssemos uma atividade marginal. Estamos trabalhando no enfrentamento de um projeto que propõe acabar com a publicação de matéria legal (balanços e outras) nos Diários Oficiais dos Estados e a redução drástica dessas publicações nos jornais de grande circulação. Nossas entidades estão atentas e trabalhando duro em Brasília, onde tramitam hoje mais de 120 projetos de Lei contra a propaganda. Temos participado de reuniões com vários órgãos de governo, especialmente com a Anvisa, que tem uma série enorme de restrições à propaganda de alimentos, bebidas e medicamentos, chegando ao nível de exigir a colocação de quase uma bula nos comerciais de medicamentos.
E não estamos falando dos problemas oriundos das denuncias das CPIs etc. e tal.
Temos muitas ações em andamento e algumas delas não podem ser divulgadas para não atrapalhar o seu encaminhamento. É por essas e outras que eu gostaria de pedir, encarecidamente, a certas pessoas, que não atrapalhem e deixem quem trabalha trabalhar em paz.

Publicado em Propaganda & Marketing março 2007

Pornografia: aquilo é propaganda?

Pediram para eu escrever sobre o caso dos outdoors pornográficos que provocou mais movimentação policial do que o próprio GP de Fórmula Um que inspirou a veiculação daquela excrescência...

Pra começar, peço um aplauso especial para o Conar e para o Orlando Marques que tomaram a atitude correta.
Normalmente eu não costumo comentar apocrifia, subcultura e principalmente subpropaganda. Tanto é assim, que muitas já passaram por mim impunemente, como panela de pressão Lares, facas Ginsu, meias Vivarina, Derma Bust e outras, de produtos sobre os quais não se ouve falar mais nada. Mas como tem sempre uma primeira vez e como algumas pessoas me honraram com seus pedidos, vamos lá.
No dia em que estourou o escândalo, eu passava de táxi perto de uma daquelas placas, e o motorista, para bancar o engraçadinho, chamou minha atenção, mostrando aquilo como se fosse alguma coisa digna de registro. Pedi para o bom conterrâneo dar uma paradinha e ficamos ali, por uns 3 ou 4 minutos, mas nem assim consegui ler todo o texto e entender direito a proposta do cartaz, tal o volume de elementos mal colocados, mal diagramados, numa verdadeira cacofonia de cores, letras e ofertas. As fotos e o fato principal, a pornografia, foram o que menos me chamou a atenção, porque é um tema que já está altamente escancarado, principalmente por comunicação que não tem nada a ver com propaganda.
Resumindo, diante de tanta mediocridade, não consegui qualificar nem como um trabalho antediluviano.
De volta ao escritório, preocupadíssimo, entrei em contato com todas as pessoas que poderiam me ajudar a descobrir de quem seria a autoria daquela excrescência e ninguém conseguiu identificar esta ou aquela de nossas agências, o que, para mim, é motivo de muita alegria.
Daí, atribuo a responsabilidade pelo trabalho a uma ação direta do anunciante, usando modelos baratos, fotos com aquela qualidade e outros quejandos. Tudo feito em casa, por um custo baixíssimo, afinal “a propaganda” já devia estar toda "bolada", pois é assim que acontece.
Tenho certeza de que, se o anunciante tivesse procurado uma boa agência de propaganda, ela teria desaconselhado tamanha besteira, e ele, certamente, teria evitado passar pelo vexame que está passando.

Publicado em Propaganda e Marketing em 26 set 2005

Governo Federal: menos verbas, mais problemas

Para os mercados menores, se as verbas públicas de publicidade forem reduzidas, não só as agências e veículos são sofrer com os cortes, mas principalmente vamos ter que enfrentar uma enorme redução de possibilidade de trabalho, o emprego para aqueles jovens que chegam ao mercado anualmente, desovados aos borbotões pelas muitas faculdades de comunicação espalhadas por todo o país. Vai ser uma pena.

A redução das verbas de comunicação do Governo Federal para patamares iguais ou até inferiores àqueles do ano de 2002, somada à indefinição na escolha de agências para atender, por exemplo, contas como a dos Correios e outras, são fatores que estão preocupando as agências de propaganda e que certamente vão refletir negativamente na vida de muitas delas e de seus profissionais.
Em primeiro lugar, as agências de propaganda, os veículos e os fornecedores do setor, mesmo com menos verbas, vão continuar pagando folha de salário, os mesmos valores de aluguel e outros custos, além dos mesmos percentuais da alta carga tributária. É evidente que não vamos ter reduções desses custos na mesma proporção da redução de verbas, como também não queremos demitir pessoas, pois temos consciência de que isso só pode servir para engrossar ainda mais a legião de desempregados que já temos hoje, isso para falar apenas dos que estão trabalhando.
Em segundo lugar, jovens profissionais, que, aos milhares, são “desovados” anualmente no mercado de trabalho pelas nossas faculdades e escolas de comunicação, principalmente em mercados de menor potencial econômico como os do Nordeste, do Norte e de outras regiões com o mesmo tipo de problema: poucas verbas de governo, além da acachapante falta de anunciantes da iniciativa privada.
Ora, considerando que os governos representam, juntos, para muitos mercados do Brasil, o maior investimento em comunicação, a redução anunciada dos investimentos feitos pelo Governo Federal certamente vai impossibilitar a todos nós, agências, veículos e fornecedores, de atender, à altura, as expectativas desses milhares de jovens profissionais que chegam ao mercado todos os anos em número cada vez maior e ávidos por uma oportunidade de trabalho em nossas empresas.
O que fazer? Precisamos nos preparar para enfrentar situações como essa que já podemos prenunciar para 2008.

Publicada no Jornal do Commercio, Recife-PE em 02/01/2008

Desafio para o jovem profissional de propaganda

“É fundamental que os jovens entendam que escolheram uma atividade que está entre as mais sérias e profissionais no mundo dos negócios. E que essa atividade – a propaganda – é o mais importante entre todos os insumos utilizados na formação e desenvolvimento de marcas de produtos, empresas, serviços entre outros segmentos”. Este foi o recado transmitido por Humberto Mendes, vice-presidente executivo da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda), durante palestra, no auditório do Sebrae, na última quinta-feira.
Mendes proferiu painel sobre “O valor da propaganda e as perspectivas do mercado para os jovens profissionais”, a convite do Sinapro - Sindicato das Agências de propaganda do Estado do Ceará e Sebrae. “As perspectivas serão construídas pelos futuros profissionais porque o mercado de hoje é muito diferente de algumas dezenas de anos atrás, quando tudo estava em fase de implantação”, disse o representante da Fenapro.
“O mercado de hoje é seletivo. Só vai conseguir entrar quem tiver conteúdo, abrangência de conhecimentos, pois não tem lugar para amadores, principalmente no negócio da propaganda”. E brinca "O único amador que eu já vi dar certo, foi Amador Aguiar, o fundador do Bradesco".
O jovem, acrescenta, precisa chegar ao mercado de trabalho com a consciência de que não vai fazer parte do problema da empresa, mas sim, se empenhar para fazer parte das soluções que ela precisa. “Num mercado disputadíssimo como o nosso, é assim”.
Mendes é conhecido pelo seu perfil combatente em prol da ética e o respeito ao ofício de publicitário. Como apagar da memória fatos recentes que mancharam a imagem da categoria? E ele responde “O fato de um ou outro bucaneiro se infiltrar na tripulação de um navio, não significa que todos os tripulantes sejam piratas. Coisas semelhantes ao tal de ‘valerioduto’ acontecem diuturnamente em várias atividades, mas nem por isso se pode dizer que elas sejam passíveis de condenação e de execração pública”.
Os anunciantes, diz Mendes, “continuam investindo em publicidade, pois sabem o valor que este serviço agrega a seus produtos e à marca de suas empresas. Os anunciantes profissionais e sérios consideram a publicidade uma de suas principais ferramentas de trabalho para alcançar seus objetivos mercadológicos. Em outras palavras, ampliarem suas vendas e o prestígio de suas marcas”.
Continuar trabalhando pela valorização do negócio vem sendo um dos principais desafios enfrentados pela Fenapro. Segundo o vice-presidente executivo da entidade, o mercado está crescendo em todos os aspectos – seja em volume de recursos seja no que diz respeito à criatividade dos jovens profissionais, nos quais a Fenapro, os Sindicatos de Agencias e demais entidades do setor depositam muitas esperanças.

Entrevista concedida ao Diário do Nordeste – Fortaleza CE em 28.8.2006