Este blog vem atender as inúmeras solicitações de estudantes de propaganda, ex-estagiários e jovens profissionais que estão entrando agora no mercado de trabalho, aos quais pretensiosamente acredito ser possível passar, em alguns minutos, conceitos e valores que levei mais de 50 anos e muita porrada pra aprender. Nele você encontrará crônicas, causos, cases além de histórias e discussões em torno da propaganda.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
terça-feira, 4 de agosto de 2015
É preciso crescer sempre: com crise ou sem crise
Quanto mais medo temos de crise,
mais aumenta a nossa dificuldade para acertar os ponteiros na nossa empresa, na
nossa atividade, na nossa vida. Albert Einstein dizia que quem acredita muito
na crise acaba acreditando mais nela do que no seu próprio negócio, em si
mesmo, na sua família, na sua própria vida.
É preocupante a gente abrir o
jornal, ligar a televisão, o rádio do carro, conversar com o porteiro do prédio
onde moramos, com o motorista do táxi, com o ascensorista do prédio onde
trabalhamos ou mesmo com o nosso próprio pessoal, porque a conversa toda
geralmente gira em torno de uma crise
que, na maioria das vezes, sequer bateu na nossa porta.
Eu sou publicitário, vivo no meio
de crises e de guerras há mais de sessenta anos, e posso afirmar, sem medo de
errar, que a crise na propaganda vai existir sempre e só vai acabar no dia em
que entendermos que é preciso dar mais importância ao nosso negócio do que à
crise.
Vamos admitir que estamos de fato
vivendo no meio de uma crise, mas também não podemos perder de vista que, mais
dia menos dia, ela vai acabar, o mercado vai voltar à normalidade e, aí, então,
quem estiver melhor organizado é quem vai sobreviver.
Organizado como? O amigo leitor
sabe que existe uma entidade que se chama Sindicato das Agências de Propaganda
em cada estado da federação, e que essa entidade está umbilicalmente ligada às
agências associadas, lhes oferecendo todo tipo de apoio de que necessitarem. É
muito mais apoio que se possa imaginar.
Tem alguns casos que vale a pena
contar, pois servem como bons exemplos. Este aconteceu em São Paulo. Logo que vim trabalhar na Fenapro, um certo
anunciante resolveu trocar de agência porque entendia que estava na hora de
escolher uma que lhe cobrasse um preço menor pelo trabalho de planejamento, criação
e, mais do que isso, lhe desse prazos dilatados para pagamento. Na sexta-feira,
recebeu o contato da agência que o atendia e lhe deu o golpe de misericórdia:
“Não trabalho mais com sua agência. Você pode ligar no Fantástico, domingo,
para ver os novos comerciais da nossa nova agência...”. O contato, um menino
que acabara de sair da faixa de trainee,
ficou tão apavorado que voltou voando
para a agência com essa triste notícia.
Não conto o nome da agência, nem
do cliente porque não tenho a anuência de ambos
para citá-los neste texto. Eu, então, que acabara de chegar na Fenapro,
o que fiz foi procurar imediatamente o Sindicato que informou que, das agências
em questão, apenas uma era filiada. A que acabara de perder a conta. O
Sindicato agiu prontamente, resolvendo o problema de uma forma que não houve
nem mortos nem feridos. O cliente manteve a relação com a agência por mais seis
meses, pagou tudo o que era direito desta, e foi embora. Sua relação com a
outra agência durou pouco, porque se tratava do mais exacerbado amadorismo, tanto
do cliente quanto daquela agência mais barata, pois que esta, para cobrar
menos, oferecia um serviço de péssima qualidade, um relacionamento medíocre com
os veículos e fornecedores, o que representa um fraco poder de negociação e outras
deficiências normais quando se trata de amadores.
A conta procurou de volta a
agência anterior. Esta era associada a um bom Sindicato. Era uma empresa
profissional. Formava profissionais, valorizava o ensino, se reciclava o tempo
todo, usava o seu Sindicato. Cuidava de
cada job com ética e
profissionalismo, como se fosse a razão maior de sua vida.
Aceitou o cliente de volta? Não. Porque
a dignidade não tem preço.
Amigos, casos como esse eu
conheço vários. Converse com o seu Sindicato e se sua agência ainda não estiver
filiada, filie-a.
Publicado no jornal Propaganda & Marketing edição 27 de
julho de 2015
Há um Ford em seu futuro
Vivo falando e escrevendo sobre
as crises que assolaram o mundo e continuam assolando, ainda que as nossas
sejam sempre crises passageiras como tantas que já tivemos no Brasil, como a de
2009 que nem bem apareceu, já se prenunciava na cabeça dos nossos derrotados de
sempre como um verdadeiro tsunami que iria varrer do mapa nossas empresas e
negócios. Mas que foi, de uma forma inocente, mas inteligente, qualificada pelo
presidente da República naquele momento
como uma simples marola.
Não deu outra, o tsunami não
aconteceu, o Brasil não parou de
produzir, e as empresas continuaram anunciando, vendendo sua produção e
valorizando suas marcas, porque anunciar
é fundamental, principalmente nos momentos difíceis.
Outro dia, conversando com o
mestre Oswaldo Mendes, lembramos de um acontecimento extremamente importante
que serve com um bom exemplo para esses momentos.
Durante a segunda guerra mundial,
a indústria americana praticamente se
transformou em indústria bélica com todo mundo produzindo os insumos necessários
ao enfrentamento de uma guerra que já tomava de assalto quase toda a Europa e
Ásia. Foi nesse momento que o Sr. Henry
Ford, com sua visão de futuro, autorizou uma campanha criada por sua agência, acredito que prevendo o fim
da guerra. O tema era “Há um Ford em seu futuro...” A ideia era tão boa que
penso que já devia ser a Thompson a agência
da Ford.
Essa frase forrou os muros, as
paredes dos postos de combustível, as porteiras das fazendas, enfim, em todo lugar a Ford gravou essa
mensagem e, com o fim da guerra em 1945, colheu os ótimos resultados de sua
coragem por não desistir. As pessoas
foram nas revendas buscar o Ford que lhes foi prometido. Muitas empresas que não anunciaram quebraram. Ganharam a
guerra, mas perderam a batalha de continuar no mercado.
Publicado no jornal em Propaganda e Marketing, de São
Paulo, e no Jornal A Tarde, da Bahia
domingo, 19 de julho de 2015
De 1960 a 2015
Se eu estivesse em Cannes, no
festival de junho, teria subido ao palco
para dar um abraço em Amir Kassaei, pela palestra na qual ele teve a coragem de
dizer que “A propaganda está perdendo a relevância e se deslocando da
realidade, esquecendo do verdadeiro consumidor
que está nas ruas, para quem muitas coisas consideradas criativas hoje já não
fazem sentido”.
Se ele estivesse falando sobre a
a propaganda brasileira, poderia dizer, também, sem nenhum medo de errar, que
ela está esquecendo de si mesma, de seus
valores e de sua relevância.
Ele teve a coragem de apresentar,
num telão, o célebre anúncio em que a
grande DDB – Doile, Dane & Bernbach Inc., no início dos anos 1960, propunha que se resgatasse o sentido da propaganda.
O célebre anúncio chamava o leitor
a refletir sobre verdades e outros fatores importantes que não se colocavam nos
anúncios de certos produtos, porque simplesmente tais verdades não existiam e ia ainda mais
longe, ao vaticinar, numa provocação:
“se não aprendermos a lidar com isso,
morreremos todos.”
Sinceramente, eu acho que seria
oportuno alguém fazer hoje um manifesto semelhante, na forma de anúncio,
comentando os acontecimentos que estão levando a nossa atividade no Brasil a um
nível muito abaixo do lugar de respeito e
destaque que sempre teve. Esses tristes acontecimentos estão aí e todos
sabemos quais são, eu só não os escancaro aqui, neste humilde texto, porque não
sou nenhum sr. Doile, nem o sr. Dane e muito menos o senhor Bernbach; eu sou
apenas um velho publicitário com mais de 60 anos de trabalho, tentando fazer
alguma coisa útil pela nossa atividade.
Os acontecimentos que estão
provocando o desmanche no nosso negócio estão aí, repito, e se ampliam cada vez
mais, com mais intensidade, como tudo o que é ruim.
Só ouso afirmar, em meu nome
pessoal, que: ou tomamos uma atitude ou
morreremos todos, como já vaticinava a grande DDB há quase 60 anos.
Publicado no editorial de Propaganda & Marketing edição de 13 de julho, 2015
quinta-feira, 30 de abril de 2015
Crise... Que crise?
Nada melhor que a boa propaganda para enfrentar as crises em
qualquer época da humanidade. Desde a minha mais tenra idade, no fim dos anos
cinquenta, início dos anos sessenta, no século passado, trabalhando em
propaganda, sempre ouvi os mais velhos e até os
melhores profissionais se lamentando das crises em que vivíamos, não só
naqueles dias, mas também das próximas crises que certamente ainda viriam, mas
o que ninguém pode negar é que até as
mais duras crises eram enfrentadas e vencidas pelo talento e profissionalismo
de uma atividade, a propaganda, que já naqueles tempos era solução para todo tipo
de problema que aparecesse na indústria, no comércio e em todos os segmentos de
nossa economia.
Ao mesmo tempo em que muito se falava em crise, também se
trabalhava com denodo e muita perseverança para enfrentar e vencer os desafios
que fatalmente interfeririam, afetando marcas e produtos em todos os nossos mercados. É claro que havia
os que perdiam com as chamadas crises, e esses eram aqueles que se comportavam
e ainda se comportam hoje como um avestruz que, diante de um perigo
qualquer, faz um buraco no chão e enfia
a cabeça para se esconder de seu próprio medo. Muitos empresários também se
escondiam, pensando que ao cortar seus investimentos em comunicação estariam fazendo
economia, e historicamente o resultado desse tipo de atitude todos sabemos: é a
perda de seu próprio mercado para outras marcas que não pararam e nem param de
se comunicar.
Temos grandes exemplos disso: na crise de 29, nos Estados
Unidos, marcas como Caterpillar, Coca Cola, Westhinghouse, Texaco, Esso, Ford,
Goodyear e tantas outras continuaram
investindo em comunicação de marketing, encarando a grande crise como uma
espécie de véspera de solução. Ou seja, mostrando para elas próprias e para o
mundo que não há crise que resista às ações da boa propaganda, quando é elaborada por boas agências e veiculada nos
bons meios de comunicação.
No Brasil não foi e nem é muito diferente. Durante todas as
crises que já vivemos, marcas como Maizena, Hipoglos, Coca Cola, Ford, General
Motors, Goodyear, Johnson & Johnson,
Casas Pernambucanas, Antarctica, Brahma, Omo, Gillette, Casas Bahia,
Skol e tantas outras, com crise ou sem crise, com guerra ou sem guerra, jamais
pararam de se comunicar com o seu público consumidor, mantendo incólume sua boa
publicidade, e o resultado final todos conhecemos: não perdem mercado, muito
pelo contrário, ampliam cada vez mais sua participação nas vendas e na
valorização cada vez maior de suas marcas, valendo acrescentar que, geralmente, não dão a menor chance para a entrada de
outros concorrentes no mercado.
Nos meus mais de 60 anos trabalhando em propaganda já vivi no
meio de algumas guerras e crises que assolaram o mundo. Bem recentemente,
tivemos uma crise - em 2009, nos Estados Unidos - em que havia um executivo que
pela sua imprevidência perdeu tudo, cama, mesa e banho, e chegou ao absurdo de
ter que dormir no seu próprio carro, residência que perdeu a razão de existir no
momento em que a financeira a tomou por falta de pagamento. O problema por lá
foi muito duro para os imprevidentes. Repito: para os imprevidentes.
Mas também aprendi ao longo de minha vida profissional que não
devemos agir como o avestruz, mas acreditar em nosso país, em nossa capacidade
de trabalho. É preciso, enfim, acreditar que crise é véspera de solução.
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