sexta-feira, 28 de junho de 2013

A sanha das proibições

Em 2001, um certo deputado do  Paraná resolveu abrir suas baterias contra a propaganda de brinquedos e assemelhados. Na sua estapafúrdia justificativa, S. Excia. declarava abertamente que tinha um filho de 11 anos e que no dia em que não davam alguma coisa que ele quisesse, fosse um brinquedo, um sorvete, o menino virava a casa pelo avesso, ameaçava arrebentar tudo e que a culpa disso era unicamente da propaganda, que envolvia com  seus tentáculos as nossas criancinhas inocentes.



Naquela ocasião, o Propaganda & Marketing publicou um artigo nosso em que alertávamos o nobre deputado para o seguinte: o que será que o menino está aprendendo na Escola ou mesmo em casa? Será que está aprendendo a ser ou está aprendendo apenas e tão somente a ter?



Lembrávamos também a S. Excia. que as indústrias de brinquedos e guloseimas eram responsáveis  pela geração de milhões de empregos, escola, saúde, segurança e vida para uma imensa população de brasileiros  e que isso só era possível porque tudo o que ela produzia era consumido, e que a propaganda tinha uma grande responsabilidade em tudo isso, sem contar que, na própria atividade formada por agências, veículos e fornecedores, milhares e milhares de famílias tinham suas vidas asseguradas. Mas iámos um pouco mais longe, ao lembrar a S.Excia. e outros deputados que se eles achavam que consumo de brinquedos, doces, sorvetes e outras guloseimas  era tão  nefasto à saúde e bem-estar de nossa tão desprotegida população, por que não criavam projetos proibindo a fabricação? Porque, se é legal fabricar, deve ser legal anunciar.



Agora, 12 anos depois, o projeto de nº 5921 de 2001 do Sr. Deputado volta a tramitar em Brasília  em busca de aprovação. Também aquele filho de S. Excia que, na época, estava com 11 anos hoje está com 23 ,e por isso, vamos torcer e rezar para que ele tenha conseguido aprender a ser.  



Humberto Mendes

Um velho publicitário que pede respeito para o seu ofício 

sábado, 1 de junho de 2013

O preço da ética

Essa crônica foi publicada no jornal Propaganda & Marketing, no dia  lº de dezembro de 2003. Aquela quinzena ficou marcada, na propaganda, por trocas de agências nunca vistas num mesmo período. Num desses casos, sem mais nem porquê, a reunião entre o pessoal de atendimento de uma certa agência e um certo cliente, não digo os nomes por não ter a anuência de ambos, começou e terminou  assim:



“Escolhemos outra agência. A partir deste domingo você já poderá ver nossos comerciais na televisão. Quanto é que lhe devemos?". Com essa sutileza paquidérmica, foi liquidada uma relação que já durava tempos entre agência e cliente. Alguns executivos acham que pagar  a fatura é o suficiente para quitar tudo o que uma agência faz: pelas marcas, pelas vendas, pelo desenvolvimento das empresas e também pelo seu emprego na empresa.
Esses absurdos acontecem a toda hora e só servem para acabar com a ética  entre empresas e pessoas.
A relação entre uma agência de publicidade e seu cliente envolve muito  mais do que a pergunta: “quanto é que lhe devemos?”  Definitivamente não é igual à do consumidor com a padaria da esquina, onde ele compra pão, leite etc., etc., até que um dia troca uns desaforos com o “seu Manuel” por causa do troco e muda para outra padaria.
Pra começar ,a agência assume um compromisso que chega a ser sagrado, de não atender concorrentes, manter absoluto sigilo sobre os planos de seu cliente. A agência de publicidade tem um código de ética, que cumpre.  Para fazer seu trabalho, a agência investe em novos serviços, pesquisas, estudos de mercados específicos  e forma material humano especializado no atendimento de cada novo job, porque na atividade da publicidade não existem padrões e fórmulas prontas para atender à enorme variedade de problemas que os clientes lhes apresentam e para os quais pedem soluções.
E qual seria um preço justo por todo esse trabalho? O mestre Caio Domingues dizia: “Vale o combinado e são até desnecessários contratos  e registros cartoriais, desde que exista, de ambas as partes, profissionalismo, respeito mútuo e respeito à ética, principalmente...”.


Como eu disse lá em cima, na abertura, esse texto foi publicado em 2003, mas ainda vale para hoje, porque infelizmente muitas relações continuam sendo rompidas do mesmo jeito.


Amigos, ética nunca teve contraindicações. E não vai ser agora que vai ter!