quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Marcas eliminadas

Deveria ser proibido tirar de circulação marcas que prestaram grande colaboração à humanidade. Quem entre nós não tomou um mingau de Maizena ou não levou uma passada de Hipoglós na bundinha quando criança, ou não começou escovando os dentinhos com Kolynos? Vale lembrar que as mães talvez nem soubessem que se tratava de amido de milho e de uma pomada à base de fígado de peixe. Por outro lado, as marcas prestaram uma grande colaboração ao desenvolvimento industrial de todo o mundo, de todos os povos. Elas deveriam ser mantidas para servirem de exemplo às novas gerações, em qualquer atividade humana.
A marca é um ser vivo. Ela faz parte da nossa vida e vice versa.


Se eu disser que não fiquei triste com a manchete “Publicis elimina Salles e Norton”, com retrato do Paulinho e tudo, na primeira página da edição anterior do nosso Propaganda & Marketing, estarei mentindo. Não tenho o menor conhecimento das condições internacionais que pautaram as negociações e contratos entre as duas grandes Agências e o grupo francês Publicis.
Tenho conhecimento, sim, das condições do coração. E disso eu posso falar: do coração de publicitários como eu e tantos outros de minha geração que vimos a Norton do Geraldo Alonso e a Salles do Mauro Salles, ao longo dos 100 anos, 60 de uma e 40 da outra, em que atuaram com seus nomes originais, formando legiões de grandes profissionais e promovendo uma verdadeira revolução nos costumes e nas estruturas, para fazer da propaganda brasileira uma das melhores, mais criativas e mais éticas de todo o mundo.
Não tenho dúvidas de que mudanças como esta trazem no seu bojo muita coisa nova, ampliam a atuação das empresas e agregam novos valores e muito mais dinamismo à própria atividade da propaganda como um todo. E sou grato por isso.
Mas as mudanças, por melhores que sejam, só não conseguem tirar da nossa lembrança a saudade e a gratidão por tudo de bom que legaram à nossa profissão, a Norton do Geraldão, a Salles do Mauro, a Standard do Cícero, que agora é Ogilvy, a Denison do Celso Japiassu, a Lintas do Rodolfo, a CBBA do Castello, a Grant Advertising, que morreu após virar Coscom - também, com um nome desses, ninguém resistiria"

Não é só uma questão saudosimo, mas as mudanças não eliminam a lembrança e a saudade dessas e de tantas outras marcas a quem devemos tanto...

(Publicado em 13/07/2005 - Propaganda & Marketing).

A importância da propaganda

Como aconteceu nos Estados Unidos e noutros países, aqui no Brasil não foi diferente: antigamente eram os corretores de jornais os responsáveis pela maior parte da propaganda comercial que se veiculava no mundo e aqui no Brasil. O que levou os mercados a criarem uma atividade chamada "agência" foi o desenvolvimento industrial e comercial que exigia tanto daqueles abnegados profissionais, que eles foram obrigados a se organizar e montar estruturas capazes de atender as exigências do progresso.

Não é novidade para nosso leitor, seja ele publicitário ou não, que a propaganda no Brasil é uma atividade das mais novas. Ela começou a ser incrementada para valer no fim dos anos trinta e início dos anos quarenta, com a chegada de grandes indústrias como General Motors, Ford, Fleischmann Royal, Standard Brands, Esso, Texaco, Refinações de Milho Brazil (com z mesmo) e outras que, no meio de suas malas e bagagens, trouxeram para cá seus bem estruturados departamentos de propaganda.
Esses departamentos, justiça seja feita, começaram a organizar uma atividade que até então era exercida, na maioria dos casos, por corretores de anúncios. O corretor era um vendedor que, trabalhando basicamente para um jornal, angariava os reclames e avisos, cuja elaboração final, geralmente, era de sua lavra ou do próprio anunciante – obras de gênio, que acabavam sendo denominadas de “bolações”.
Só que, quando o anunciante precisava usar outro jornal, ainda que da mesma cidade, era um “Deus nos acuda”, pois o amigo corretor não podia “servir a dois senhores ao mesmo tempo” e o reclame não era publicado, e ele mesmo se incumbia de queimar o jornal concorrente.
Por essas e outras - e também pela falta de experiência desse nosso herói no trabalho de planejar, atender e criar comunicação de qualidade -, a maioria dos reclames começava, invariavelmente, com a frase "Agora no Brasil", composta tipograficamente nas chamadas letras garrafais e aí, tome "Agora no Brasil" para anunciar quaisquer produtos ou serviços.
Mas a indústria foi crescendo, crescendo, se transformando em parque industrial e já não dava mais para fazer o trabalho de propaganda com tanto amadorismo e então começaram a vir para cá grandes agências inglesas e americanas como N.W.Ayer, J. Walter Thompson, McCann Ericsson, Grant Advertising, ao mesmo tempo em que surgiam boas e fortes agências nacionais, como Norton, Lintas, Alcântara Machado, P.A. Nascimento/Acar, Eclética, Petinatti, Orion, Panam e muitas outras, cujos profissionais desenvolveram invejável capacidade criativa.
O negócio da comunicação crescia e se multiplicava a olhos vistos. Era a solução para trabalhar de mãos dadas com uma indústria efervescente que necessitava contar com mais talento e criatividade, não só para vender e desovar milhares de produtos, que até aqueles dias eram importados, mas também para ensinar grande parte dos futuros consumidores a usar coisas como sabonete, creme dental, remédios, utensílios domésticos, perfumes, preservativos e muitos outros itens de consumo que saíam diariamente das máquinas de um parque industrial que já estava sendo forjado. Apenas como registro, não é demais lembrar que ainda hoje a propaganda continua nos ensinando a usar e entender coisas como a informática, a Internet, o celular e tantas novidades que aparecem a cada instante.
Voltando aos velhos tempos, as lideranças, tanto dos anunciantes, quanto das agências, dos meios de comunicação e fornecedores dos serviços de propaganda, sentiam que era preciso organizar as coisas, pois o crescimento, vindo de todos os lados, era irreversível.
E foi assim que a velha e boa necessidade, mãe de todas as invenções, criou o primeiro Sindicato de Agências de Propaganda no estado de São Paulo, sendo que, entre as que ainda estão na ativa, a McCann Ericsonn e a J.W. Thompson são as mais antigas associadas. A partir daí, as agências de propaganda e os veículos, a começar pelos jornais, passaram a implantar Sindicatos em todos os Estados da União, até que há 25 anos foi criada uma federação, a Fenapro, para congregar e manter unidos e organizados os nossos Sindicatos de Agências, hoje Sinapros.
Usando aquela antiga frase dos tempos do reclame que critiquei ali atrás, posso assegurar que “Agora no Brasil” já temos quase 20 sindicatos fortes, uma federação mais forte ainda – uma verdadeira indústria de comunicação, formando legiões de profissionais anualmente, disputando e conquistando os mais cobiçados prêmios de todo mundo, além de contarmos, também, com outras entidades fortes e importantes como ABA, ABAP, ABP, ANJ, APP, CEMP, CONAR, ABRAS, ABERT, ANER e outras, cuja principal atividade é a luta permanente em defesa dos interesses e do desenvolvimento de uma grande indústria chamada Propaganda.
Nos Sinapros – Sindicatos das Agências de Propaganda de todo Brasil – e na Fenapro, trabalhamos incansavelmente para manter a coesão e aprimorar as relações entre todos: agências, veículos, anunciantes e fornecedores, porque os atores que compõem este quarteto insuperável e inseparável têm plena consciência do valor que a propaganda agrega aos negócios de todos.
Do Brasil, principalmente!

(Publicado em 22/11/2007 – Diário do Pará).

Proibições e regulamentos

Pensando friamente, a culpa não é da propaganda, mas sim de quem permite fabricar produtos que, segundo sua própria opinião, são nocivos à saúde da população.

Ainda não entrou em vigor a “Lei Geral de Comunicação de Massa” e já é assustador o que se fala sobre a possível regulamentação da propaganda de alimentos.

D. Patrícia Chaves Gentil, consultora do Ministério da Saúde: “A meta é evitar a massificação da propaganda de alimentos...”. “É difícil promover hábitos saudáveis de alimentação. A criança acaba sendo o principal alvo da publicidade”.

Por outro lado é louvável a coragem do sr. Cleber Ferreira, da Anvisa, quando ele diz: “Não basta ter uma legislação de interferência na propaganda, se não houver uma proposta forte de educação alimentar”. Ele tem razão. No Brasil nunca houve uma proposta semelhante, ou em nível aceitável.

E lá vem outra, agora da ONG Kairós: d. Fabiola Zerbini diz: “Não defendo a censura, mas especialmente no caso de propaganda de alimentos na televisão, acredito que aquelas com produtos pouco nutritivos não deveriam ser veiculadas em horários que têm crianças assistindo...”.

Tem mais: o diretor jurídico da Abia, associação que reúne a indústria de alimentos, diz que “Pretendemos diminuir a ferocidade da publicidade dos Alimentos onde haja uma especificação para o público infantil...”.

Causa espanto ver que tem gente que fala em ferocidade da propaganda, outros lembram que é permitido fabricar produtos pouco nutritivos, portanto perigosos, outros falam da massificação da propaganda que não permite criar bons hábitos alimentares.
A impressão que essas pessoas nos passam é que não sabem que todos esses produtos, nutritivos ou não, são legalmente fabricados, por indústrias que pagam altos impostos, investem muito alto em pesquisas e desenvolvimento de produtos, em formação de mão-de-obra especializada e, em termos de empregos, para falar só nos diretos, tiram muita gente da informalidade.
É claro que a indústria de alimentos investe também em propaganda. Investe menos do que deveria. A propaganda, por sua vez, também emprega muita gente, gera progressos, desenvolvimento e assim por diante.
Ora, considerando que essas minhas afirmativas são absolutamente verdadeiras, pois duvido que alguém tenha coragem de desmenti-las, defendo a proposta de que, se é legal fabricar, cobrar todos os impostos etc. e tal, tem que ser legal, também, anunciar.
Ou então que se faça um projeto que proíba a fabricação de tais produtos “tão perigosos para a saúde da população”.

Mas, por favor, não transfiram para a propaganda a responsabilidade pelo pecado da gula e pela péssima educação que nossas crianças recebem, de uma escola fraca e de pais que pouco ou nada lhes ensinam.

(Publicado em: 14/02/2005 – Propaganda & Marketing).

O que o cliente espera da agência

“Ganharam os prêmios e perderam o emprego, perderam a conta, perderam tudo, porque não entenderam que, entre o verdadeiro profissionalismo de uma agência e o amadorismo de muitos, existe uma distância muito grande.”

Como dizia o grande mestre da propaganda brasileira Caio Aurélio Domingues, formador da maioria dos publicitários mais famosos deste país, “Ganhar prêmios chega a ser divertido, é gratificante mesmo, mas temos de levar em conta que propaganda é um negócio de resultados concretos para o Cliente...”.
Fora disso, a maioria das chamadas “sacadas geniais e criativescas” que vemos por aí não passa de sonhos de uma noite de verão. Eu mesmo já vi campanhas premiadas, premiadíssimas, que por não alcançarem os resultados prometidos e esperados, custaram a cabeça do diretor de Marketing, do gerente de Propaganda e de outros que as aprovaram no cliente. Sem contar que, em consequência disso, a agência também foi dispensada. Um verdadeiro desastre com vários culpados. E, aí, o nosso leitor há de perguntar: por que acontecem semelhantes absurdos?
Houve um caso, não vou citar nomes aqui, em que fomos a campo procurar conhecer os motivos que geraram essas mesmas consequências.
E é com base nesse caso que coloco aqui uma simples resposta.
Disse um diretor que entrevistamos na empresa: “os nossos profissionais e os da agência não atinaram para a necessidade que a propaganda deveria ajudar a resolver. Não entenderam por que a empresa estava investindo naquela campanha. Faltaram com o devido respeito ao dinheiro do cliente, nosso dinheiro, e - todo mundo sabe - dinheiro não aceita desaforo”.
Pasme, amigo leitor, mas o objetivo de todos eles, infelizmente, era um só: ganhar prêmios, do tipo “os melhores disso”, “os melhores daquilo”...
Ganharam os prêmios e perderam o emprego, perderam a conta, perderam tudo, porque não entenderam que, entre o verdadeiro profissionalismo e o amadorismo, existe uma distância muito grande.
Sem nenhuma cabotinice, peço a vocês que aceitem esta humilde colaboração. E não perguntem como é que eu sei essas coisas, pois estou aprendendo há mais de 50 anos.

(Publicado em 05/09/2007 - Jornal do Commercio).

Crise: tem gente que gosta

Enquanto a maioria perde com as crises, uma minoria de velhacos ganha muito com elas. É a miséria de muitos, enriquecendo e beneficiando alguns.

Outro dia, lendo uma notícia da coluna policial, leitores acostumados com a variada gama de marginalidade que é estampada diariamente nas páginas dos nossos jornais ficaram petrificados quando souberam que a polícia desbaratou uma quadrilha que estava abrindo “contas Mandrake” na rede bancária para receber doações às vítimas das enchentes de Santa Catarina. Um gesto “humanitário”, em seu próprio benefício, é claro, pois que iria resolver apenas os seus problemas pessoais de dinheiro. “As vítimas, danem-se” disse um dos meliantes ao ser preso. O fato é que já estavam com a estrutura pronta para entrar em outros Estados, pois é mais do que sabido que as chuvas de verão, anualmente, causam danos irreparáveis e quase iguais àqueles de Santa Catarina aos Estados do Rio de Janeiro, Minas, Espírito Santo e outros, o que acaba vitimando muita gente, como infelizmente já está acontecendo com os fluminenses, capixabas e mineiros. O caso das tais contas bancárias é o mais puro e deslavado episódio de estelionato e teve o desfecho merecido. Os criminosos já estão presos. Se vão ser condenados, aí é outra conversa.
Mas tudo isso não é muito diferente daquilo que já vem sendo perpetrado por pessoas e empresas em nível nacional e até internacional, estimulando e capitalizando a seu favor uma onda de informações sobre uma possível crise que já começa a dizimar a economia de alguns países que não vamos citar aqui porque, felizmente, não é o nosso caso.
Entre nós, já há alguns empresários, se é que podem ser tratados com esse título, donos de empresas que estão tirando vantagens e benefícios de uma crise que ainda não chegou até as nossas plagas e, se chegou, não foi da forma exagerada que esses facínoras estão utilizando para, repito, tirarem vantagens. Em nossa área, a propaganda, por exemplo, já há alguns - felizmente poucos - clientes de agências pressionando estas para rebaixarem os preços de seu trabalho. É a crise, é a crise, dizem, para justificar certas ações; clientes que vêm operando à base de um fee espúrio e negociado ontem a seu favor, hoje estão propondo reduzir ainda mais o valor de tal fee, proposta que, se aceita pelas agências, vai mandar a rentabilidade delas para o ralo.
E o que é mais grave é que a agência e o cliente sabem que quanto mais os preços de um trabalho são vilipendiados, menor é a possibilidade de se contar com um serviço de qualidade.
Este é apenas um simples exemplo do que já está acontecendo entre nós. Só espero que nos sirva como uma reflexão, porque, se com a crise que ainda não se instalou entre nós, já tem gente fazendo isso, se ela se instalar - o que eu não acredito - quem der muito hoje não vai ter o que dar amanhã.

(Publicado em Propaganda e Marketing e Correio Brasiliense - 22/12/2008).

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O que espero do IV Congresso

Este artigo foi publicado no jornal Propaganda e Marketing, no dia 14 de julho de 2008, dois dias antes da abertura do IV Congresso Nacional de Publicidade. Nele, procurei expressar minhas incansáveis esperanças de que melhoremo-nos, como seres humanos e, principalmente, como profissionais de publicidade.

Não é demais reafirmar que nossos congressos anteriores legaram muita coisa boa para a nossa atividade. Leis, IVC, Conar, Códigos de Ética, Consciência profissional de respeito ao ofício de publicitário e outros benefícios, graças aos quais nossa atividade, a publicidade, colaborou enormemente para o desenvolvimento do País. Depois de falar tudo isso e muito mais um dia desses para um grupo de estudantes de comunicação, eles me perguntaram o que eu esperava dos próximos Congressos de Publicidade, a começar pelo IV, nos dias 14, 15 e 16 de julho/2008.
Como não tenho grandes esperanças de participar dos próximos, que podem acontecer daqui a 5, 10, 15 anos, até por uma questão de idade, pois só de propaganda tenho mais de 50, vou falar de minhas esperanças neste nosso IV Congresso, com base em alguns dos 15 painéis que vamos ter naqueles três dias.
Toda vez que falo de minhas esperanças em nosso negócio, soa como mais uma atitude quixotesca de minha parte, mas f... Para um bom entendedor, uma só letra basta.

Responsabilidade social e sua comunicação – Tenho certeza de que nossas agências vão continuar se empenhando em fazer, por exemplo, campanhas voluntárias pela sustentabilidade socioambiental, visando tornar o planeta despoluído e habitável para as próximas gerações que virão cumprir novas existências aqui, na esfera terrestre.

Prestadores de Serviços – Daqui em diante, com toda a certeza, as relações entre todos os que compõem a indústria da publicidade vão ser aprimoradas.

Licitações públicas - Haverá mais respeito às leis e verdadeira transparência nos editais de licitação em todos os níveis, para escolha de serviços de agências e os licitadores vão parar de misturar publicidade com estopa, prego, parafusos, contratação de serviços de vigilância, limpeza etc...

Criatividade – Vamos parar de brincar com a imagem da mulher, que não é um objeto de qualquer uso, com o anunciante e com o consumidor, que não são idiotas, e com a imagem da nossa própria atividade, que certos comerciais de TV, como alguns de cerveja, passam para a publicidade a fama de uma atividade irresponsável.

Mercados Regionais - Como já se produz publicidade da melhor qualidade em qualquer parte do País, a valorização dos mercados regionais será o compromisso ético e moral de nossos profissionais, das agências, veículos, anunciantes e fornecedores de todos os mercados, de norte a sul do País.

Educação e formação profissional – Nenhum publicitário atuante em agência, veículo ou anunciante vai se recusar a fazer, voluntariamente, palestras para estudantes de faculdades, escolas e cursos de propaganda e marketing de todo o País. Dessa forma, vamos ajudar a forjar os novos profissionais da propaganda brasileira.

Tributos – A carga tributária que assola o País vai diminuir e, com isso, as empresas vão poder aumentar suas ações de comunicação com o consumidor.

Valorização do negócio – Finalmente, vamos poder cobrar o preço justo pelo nosso trabalho, sem arrochos e pressões de nenhum lado.

Liberdade de expressão – Com liberdade de expressão a gente faz as melhores coisas do mundo, principalmente publicidade.

Meus amigos, alimento as mesmas esperanças nos outros 6 painéis do Congresso, mas como o espaço é curto e o tempo também, me ative apenas aos 9 aí de cima, até porque, com eles, eu tenho mais afinidade.
Vamos fazer muito mais no futuro? Claro que vamos. Quem viver verá.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Propaganda e a Sustentabilidade

A responsabilidade da propaganda e da comunicação com a preservação ambiental, com o compromisso de deixar um mundo habitável para as gerações futuras é muito maior do que a da maioria dos segmentos da sociedade, porque informar, educar, criar conceitos é nossa tarefa. Já fizemos campanhas memoráveis em defesa do meio ambiente, do ser humano e vamos continuar fazendo. É sobre isso que falamos nesta crônica, publicada em 2008 no Propaganda & Marketing

Adotado como substituto para o nome responsabilidade social, uma proposta que lamentavelmente não encontrou na maior parte do empresariado e da população a receptividade e o apoio esperados, até por culpa do seu próprio noviciado, a partir de agora, onde se lia responsabilidade social, leia-se sustentabilidade socioambiental.

Sustentabilidade.

O que é isso? O conceito "sustentabilidade" tem, no mundo todo, uma relação muito direta com os vários aspectos econômicos, culturais, sociais e ambientais que afetam frontalmente a vida do ser humano. Originalmente era tratado como desenvolvimento sustentável e fazia parte da Agenda 21, um programa das Nações Unidas. Para se ter uma ideia de sua importância, sua abrangência cobre ações que vão desde o comportamento entre vizinhos até o comportamento com o planeta. Fala-se muito em desenvolvimento sustentável; no entanto, é preciso que fique esclarecido que qualquer empreendimento humano só é sustentável se estiver alicerçado em quatro pontos básicos a saber: ecológica e economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito.
É inegável que o século XX nos legou o que temos de melhor em nossas vidas: passeamos pelo cosmos, aportamos na Lua e estamos próximos de alcançar outros mundos. As nossas invenções e descobertas se superavam em pouco tempo e eram substituídas rapidamente por outras melhores, graças ao desenvolvimento da ciência e da nossa própria capacidade de realização. Mas também não podemos desconsiderar que ficou para trás, como um duro legado para todos nós, uma carga gigantesca de problemas sociais, morais e ambientais para serem resolvidos, principalmente por aqueles que pretendem deixar um mundo humanamente habitável para as gerações futuras.
Todos nós, independentemente de raça, profissão, crença religiosa, política e ideológica, temos que tomar atitudes sérias com relação a isso.
Temos de nos conscientizar de que “não viemos aqui a passeio, viemos para protagonizar...” como bem disse Christina Carvalho Pinto em sua palestra no 5º Fórum Mundial de Comunicação Social.
Nesse mesmo 5º Fórum Mundial de Comunicação Social, realizado em Porto Alegre no dia 25 de março de 2008 e que teve seus trabalhos centrados nos temas Contribuição da mídia para a Sustentabilidade ambiental; Direito ambiental e sustentabilidade; Consumo em harmonia com o planeta; Sustentabilidade: comunicação e marcas na berlinda; e Conscientização ecológica pela mídia, na condição de representante da Fenapro, tomei a liberdade de apresentar várias ações já realizadas pela propaganda em prol da flora, da fauna e do homem, como a campanha SOS Mata Atlântica, que fez o povo pensar em ecologia, e várias outras ações voltadas para o comportamento humano; também me permiti prometer que a propaganda jamais negará seu amplo, total e irrestrito apoio a toda e qualquer iniciativa que se tome nesse sentido.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Valores

Fui convidado por uma faculdade de uma importante cidade do nosso interior para falar a estudantes de comunicação sobre o valor da propaganda. Era um auditório com mais de 200 pessoas dos mais variados naipes e idades. Professores, estudantes de duas faculdades da região e tinha até gente que trabalhava em agências locais, mas o que me deixou um tanto preocupado foi saber que entre aquele público, a maioria de estudantes, tinha alguns que não acreditavam na seriedade da profissão de publicitário, e justamente esses eram abertamente favoráveis aos projetos anti-propaganda que tramitam no Congresso Nacional e às proibições que nos são impostas por determinados órgãos públicos, como a melhor forma de “proteger nossa desguarnecida população contra a influência deletéria da propaganda”, que além de ser muito cara é a grande culpada pelos excessos de consumo de cigarro, bebida, guloseimas, automóveis, e muito outros produtos legalmente fabricados por indústrias que pagam impostos e geram empregos, trabalho e progresso.

A miopia dessas pessoas é o que faz delas seus próprios adversários, porque se a propaganda é uma atividade tão deletéria, por que continuam estudando-a, pagando uma mensalidade que sabemos não é nem um pouquinho barata?

Identificados os possíveis adversários, fui informado que alguns eram pessoas que já trabalhavam em veículos e em departamentos de marketing, ou de house agencies. Esses diziam que a propaganda feita em agência acaba tendo seus preços impraticáveis para o anunciante. Cheguei mesmo a pensar que a inclusão daquela meia dúzia tivesse como objetivo provocar minha reação.

E foi aí que resolvi aceitar a provocação.

Falamos bastante sobre a história das agências de propaganda no Brasil, de sua influência no desenvolvimento do nosso parque industrial e na formação de uma grande malha de meios de comunicação e de um parque gráfico tão bom como os melhores do mundo. Falamos sobre a atuação da propaganda na formação profissional, na geração de empregos em todo o Brasil, na criação de marcas que se transformaram em sinônimos e fizemos um grande teste de memorização de slogans que se perpetuaram na memória de todos. Todo aquele público se lembrou de slogans de produtos como US TOP, Bombril, Gillette, Esso, Brastemp, Kolynos, Café Seleto, Nycron, Modess, Ponds, Valisere, Omo e outros. Passamos para eles a incumbência de lembrar de slogans famosos e não deu outra: lembraram de tanta coisa boa, que daria para organizar um verdadeiro museu de propaganda.

Para encerrar, fizemos um teste final, provocando o auditório em peso, pedindo para quem lembrasse do slogan da Bayer, que respondesse nos próximos 3 segundos e contamos 1, 2, 3... Mais de 90% daquele público formado por gente de todas as idades respondeu prontamente: “Se é Bayer é bom...”

Encerramos e reunião com um esclarecimento: pois é, esse slogan da Bayer foi criado por uma agência de propaganda em 1923. A Bayer pagou uma vez só e continua usando até hoje.
Será que ainda estão aí aqueles que acham que a propaganda é muito cara?
Eles foram saindo de fininho... Depois fiquei sabendo que um deles era da Bayer.

(Publicado originalmente em Propaganda& Marketing, 09.11.2003).

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Vitória de Pirro

Esta crônica foi publicada em setembro de 2006 em Propaganda & Marketing. Ela é lembrada hoje neste blog, porque o assunto que a motivou continua ativo.
Infelizmente ainda tem gente que não valoriza o trabalho que faz, dando de graça o que tem de mais caro e mais nobre.


Cada vez que vejo nossa imprensa informando que agências fulana, sicrana e beltrana venceram uma concorrência, na qual não cobraram isso e deram de graça aquilo em função do tamanho da conta ou de imposição de grandes clientes, além de ficar estarrecido, fico pensando se é mentira ou se é verdade, e qual vai ser o resultado futuro, não só para os vencedores, mas principalmente para a indústria da propaganda como um todo...

Para mim, uma conquista nesses moldes não passa de uma "Vitória de Pirro". Pirro, para quem não sabe, foi rei de Épiro, um pequeno país que ficava ali pela Ásia Menor, que em determinado momento entrou em guerra com Roma e começou a vencer pequenas batalhas, só que o reino de Épiro perdia tantos efetivos, que não tinha condições de repor. O resultado é sobejamente conhecido.
É daí que se origina o conceito “Vitória de Pirro”.

Uma certa concorrência em que as vencedoras abriram mão de cobrar custos de produção e sei lá mais o quê, é uma autêntica “Vitória de Pirro”: algumas agências vão operar uma verba de mais de 200 milhões a custo zero de produção e o resultado disso, dessa “jogada inteligente”, é que anunciantes de muito menor porte do que aquele detentor de mais de 200 milhões já começam a apertar suas agências, com a velha e tradicional argumentação: “se é possível conceder tanto para um anunciante com toda essa dinheirama, porque não o é também para minha empresa, que é muito menor, que tem na propaganda sua principal "ferramenta de vendas", mas que dispõe de parcos recursos para investir?.
O que responder para esses anunciantes de menor porte, que tanto precisam de propaganda?
Não podemos começar a inventar justificativas estapafúrdias e nem lhes dar respostas descabidas, sem o menor sentido, mentirosas mesmo...
Tudo isso é altamente preocupante porque, infelizmente, o número de agências e clientes de pequeno porte em nosso País é muito maior do que o de agências e anunciantes de grande porte. Se essa moda de não cobrar pega, não sei onde vamos parar.
Tal qual aconteceu com o Reino de Épiro, pergunto: o que será do “Reino da Propaganda?”.
Infelizmente na comunidade não só de donos de agência, mas também de dirigentes do setor, ainda tem gente que se ilude e se contenta com essas Vitórias de Pirro.

As crises de todos nós

São Paulo, março de 2009. Até parece que estamos irremediavelmente perdidos
O jornal da manhã, já na primeira página, fala em crise. O rádio, a TV, a Internet, o porteiro do prédio, o motorista do táxi, tudo e todos falam de crise com tanta veemência, que nem parece que na noite anterior nasceu uma linda criança no hospital X, que um seresteiro sonhador fez um grande poema, que um pesquisador está chegando perto de certa fórmula que vai resolver problemas de alzheimer, aids, câncer, fome e tantos outros males que estão dizimando a humanidade.

A palavra "Crise" é como uma desagradável música tocando o tempo inteiro em nossos ouvidos, como se fosse a trilha sonora de nossas vidas.

Ter medo de crise sempre foi uma característica forte de muito seres humanos, mas felizmente não de todos. Temos muitos exemplos de homens que nunca tiveram medo, que sempre enfrentaram as crises, mas eu vou me cingir a apenas dois desses bons exemplos.

Eu trabalhava na Editora Abril, nos anos sessenta e um dia estávamos uns quatro executivos no café, lamentando antecipadamente as consequências de uma crise brava que nem havia começado. Nisso chega Victor Civita, “seu Victor”, como todos o chamávamos e entra na conversa. Acho que percebeu o exagero das nossas preocupações e pediu um fascículo que eu tinha na mão, para dar uma olhada. Falou um pouco sobre a importância daquela pequena publicação estar sempre analisando todos os setores de nossa economia, e nos disse o seguinte: rapazes, crise a gente enfrenta trabalhando muito, criando produtos de qualidade, investindo e confiando no pais onde nascemos ou então naquele que nos acolhe como este nosso Brasil fez comigo. Pagou o café e foi embora. Pouco tempo depois o Brasil ganhava Exame, uma grande revista de economia...

Acho que aprendi aquela lição, tanto que em minhas palestras e textos que escrevo em alguns jornais de todo o país, vivo dizendo que “Crise é véspera de solução...”

O outro exemplo, bem semelhante ao de “seu Victor” nos é dado pelo cientista Albert Einstein, num texto em que o mestre critica os medos, a covardia de muitos e define o que ele entendia como crise.

"Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e empresas, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É nas crises que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar "superado". Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos pa­íses é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la"

Interessante é que tanto no exemplo do “seu Victor” há mais de 50 anos, como no de “seu Einstein” que morreu em 18 de abril de 1955, vemos exemplos de homens que sempre viveram enfrentando e vencendo crise em cima de crise.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O "estranho poder" da mídia e da propaganda

O amigo leitor sabe que a propaganda e a mídia são atividades das mais novas, entre todas as que formam o conjunto da economia brasileira.

Ideias novas que em pouco tempo deram certo no Brasil (algo em torno de 60 anos para a publicidade e um pouco mais para a mídia) e se transformaram em potentes ferramentas de informação, de geração de progresso e de empregos, e que por isso mesmo, nos dias atuais, são as mais procuradas profissões nos exames vestibulares.

Historicamente, a propaganda e a mídia sempre caminharam juntas no trabalho de informar, educar e instruir o ser humano, desde os tempos em que os anúncios de creme dental ensinavam as pessoas a escovar os dentes e os de sabonete a tomar banho. Depois com a industrialização do país, a propaganda e a mídia nos ensinaram a usar o fogão a gás, a televisão, a máquina de lavar e ainda hoje, os anúncios ensinam a operar os mais intrincados sistemas de informática, telefonia celular, a TV digital e todas as novidades que aparecem a todo instante.

Mas, infelizmente, ainda assim, essas duas grandes parceiras e colaboradoras do desenvolvimento encontram adversários de todos os matizes e em todas as classes sociais. É comum - e até já virou moda - pessoas ricas, pobres e remediadas apontarem um dedo para acusar a propaganda e a mídia, como as maiores e até, em muitos casos, como as únicas responsáveis pelos vícios do fumo, bebida, gula, e muitos outros, quando na verdade, todos sabemos que esses maus costumes e vícios, são o resultado de uma educação de baixa qualidade, que desde os tempos das capitanias hereditárias governo nenhum conseguiu resolver. Não falta muito para atribuírem à propaganda e à mídia a culpa pela matança de crianças, pedofilia, corrupção e tantos outros crimes que grassam no Brasil e em todo o mundo.

De qualquer forma, precisamos entender que ter adversários, é normal em qualquer atividade onde estejam envolvidas pessoas, para as quais toda ideia nova está sempre sujeita a críticas injustas, porque as justas e construtivas ninguém gosta de fazer.

O que não é novidade para nenhum de nós é que a medida da importância de uma nova ideia se faz pela emoção que o seu aparecimento provoca, pela violência da oposição que desperta e pela intensidade e persistência da cólera de seus adversários. Foi assim com Sócrates, Cristo, Galileu Galilei, Joana D’arc e tantos outros mártires.
E nós não somos melhores do que eles para não merecer passar por certas provas.

O que está faltando para esses míopes e exacerbados críticos entenderem é que a propaganda e a mídia brasileira não têm um mínimo de culpa pelos desserviços de alguns e muito menos pelos vícios que as pessoas já tinham, quando Johan Guttemberg inventou o sistema de impressão em "tipo altura" e quando surgiu a primeira agência de propaganda no fim do século 19.

O que essas pessoas precisam saber é que o medo só existe porque o medroso não conhece aquilo que lhe faz medo. Assim, sugiro que procurem entender melhor o verdadeiro papel da propaganda e da mídia, porque ambas não têm medo de ninguém, muito pelo contrário vão continuar trabalhando para informar e esclarecer as pessoas e empenhadas em colaborar para o progresso do país, queiram ou não essas pessoas.

Regionalização da propaganda: quem tem medo disso?

Lamentavelmente, para algumas pessoas que trabalham em propaganda e mesmo em anunciantes, falar em regionalização da propaganda de governo ou da iniciativa privada soa como alguma coisa proibida, como se fosse um tabu, um bicho venenoso no qual não se deve mexer, e essas pessoas, por pura miopia profissional, há muito tempo pensam que as agências de quaisquer partes do território nacional têm a absurda pretensão de querer fazer valer ideias anacrônicas como essa, por exemplo: "se a extração de petróleo acontece em grande parte no litoral da Bahia ou de Sergipe, a publicidade da grande empresa estatal deve ser entregue com exclusidade a uma agência de publicidade de um dos dois Estados..."

Não é nada disso, amigo leitor.

Quando a Fenapro adotou a bandeira da Regionalização da Propaganda, o fez com base em algumas das melhores intenções: a primeira delas era a de aumentar a participação da entidade junto aos Sindicatos e ao trade da propaganda em todo o território nacional e nisso obteve um grande sucesso, pois em dois anos ja foram realizados reuniões, seminários e workshops na maioria dos estados brasileiros, levando para esses mercados a experiência dos maiores centros, como São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, além de mercados internacionais. Enfim, conhecimento capaz de acrescentar mais know-how em planejamento, criação, mídia, atendimento, pesquisa, legislação, gestão de agências, licitações e outros trabalhos, sem os quais ninguém pode oferecer um serviço de comunicação de alta qualidade. Fizemos um acordo com a ABA - Associação Brasileira de Anunciantes, que suscitou a criação de um guia para seleção de agências de propaganda, um trabalho que visa, primordialmente, ao aprimoramento das relações entre agência e anunciante. Com a mesma ABA, a Fenapro realizou, em outubro de 2009, o 1º Fórum Mercados Brasileiros, para discutir importantes questões em torno da regionalização da propaganda, um tema do maior interesse, não só das agências, mas também - e principalmente - dos anunciantes, quem veem no desenvolvimento regional dos mercados a grande alternativa de crescimento de suas vendas e de valorização de suas marcas.

Em síntese, regionalização é isso, pois na Fenapro e nos Sindicatos de Agências de Propaganda de todo o Brasil, todos acreditamos que só com o aprimoramento das empresas e de seus profissionais, poderemos oferecer uma comunicação da mais alta qualidade neste terceiro milênio. Em qualquer parte do território nacional.

Publicado originalmente no Correio Braziliense, dez/2009.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Qual é a idade do consumidor?

Pouco importa. Ele é o consumidor, ora...
Hoje, vamos ocupar este espaço para falar de um consumidor muito especial: Seres humanos - homens e mulheres acima dos 55/65 anos, o chamado público da terceira idade. Uma verdade irrefutável é que, quando uma rede de lojas de varejo vende uma geladeira, um aparelho de DVD, uma televisão, ou quando uma revenda de automóveis vende um carro, ou ainda quando uma imobiliária vende um imóvel, a idade do comprador e até sua renda fixa é o que menos importa, pois o comerciante/vendedor sabe, de antemão, que está tratando com alguém que vai pagar, com alguém que tem, acima de tudo, experiência, compromisso com a seriedade, princípios éticos norteando suas vidas e, salvo raríssimas exceções, é uma pessoa acima de qualquer suspeita.
Esse senhor ou essa senhora, quando vai às compras, a última coisa que pensa é nessa história de terceira idade - essa tolice que não deve inibir nem o comprador e muito menos o vendedor, porque, historicamente, o primeiro quer e precisa comprar e o segundo, quer e precisa vender. Para dar a nosso leitor um rápido perfil desse comprador, um sem número de trabalhos realizados pelos mais conceituados institutos de pesquisas e estudos de mercado no Brasil e no exterior nos mostra que esse consumidor, aqui em nosso país, representa algo em torno de 10% de nossa população ativa. E nos mais adiantados centros do primeiro mundo, esse percentual chega a ser maior, dada a qualidade dos serviços de saúde e dos valores financeiros que eles recebem, aposentados ou não. Nos mostram, principalmente, que todos, não importa a idade e poder aquisitivo, cultivam valores éticos, morais, intelectuais e religiosos. Têm uma visão positiva da vida, trabalham independentemente de estarem aposentados, pois como seres humanos ativos nunca param de aspirar sempre mais, e continuam lutando para manter uma boa renda fixa, pois ninguém, em sã consciência, pretende deixar de viver em "permanente estado de consumo". Isso é intrínseco na vida de cada ser humano.
Hoje, aqui no Brasil, aproximadamente 20 milhões de pessoas estão em semelhante situação, com pelo menos metade, 10 milhões, na faixa etária dos 55/65 anos. Lutando, trabalhando, viajando em férias, assinando o cheque, o cartão de crédito e tomando as mais importantes decisões em seu trabalho e em sua vida particular.
Mercadologicamente falando, esse público não é nada desprezível, muito pelo contrário, tem muito mais a oferecer do que podemos imaginar.

A propaganda e a comunidade

Muito mais do que "transformar seres humanos em desbragados consumidores do supérfluo", como dizem alguns dos nossos detratores, a propaganda tem uma função social de extrema importância na vida das pessoas e da comunidade à qual elas pertencem. Gostaria de chamar a atenção do amigo leitor para alguns exemplos disso:
1. Consciência de comunidade sempre foi uma das ideias mais difíceis de se implantar, e não é de hoje, mas, graças ao empenho e apoio desprendido de empresários da propaganda e de anunciantes de todos os segmentos da nossa economia, estamos começando a colher bons resultados nesse sentido.
2. No meu tempo de menino, e já vai muito tempo, lembro-me com todos os detalhes, de como os anúncios de creme dental Kolynos, Odol e Gessy ensinavam as pessoas a escovar os dentes; os de sabonete Lever, Eucalol e Vale Quanto Pesa, a tomar banho com sabonete; os de gás (GLP) ensinavam a usar o fogão a gás com segurança, e ainda hoje, a propaganda continua fazendo esse mesmo denodado trabalho didático: com o computador, a internet, o celular, o forno de microondas e tudo de novo que aparece.
3. Outro exemplo: tomando por base o tema do meio ambiente, em que se objetiva manter as ruas e as cidades limpas, numa campanha ou num simples anúncio isolado, o que a propaganda faz é mexer na mente das pessoas, criando uma consciência de membro, que todos somos de uma comunidade que é, em essência, a família, a casa, a rua, o bairro, a cidade, o país, o planeta Terra, o universo. Ela orienta o ser humano e cria em sua mente a consciência de que, como membro da sociedade humana, precisa preservar o meio ambiente onde vive, respeitar o direito do outro, que não pode ser obrigado a conviver com um lixo, defeitos e vícios que não são seus. E o resultado é o que já se vê hoje em nossas ruas: muitas pessoas, adultos e crianças, ricos e pobres não mais atirarem papéis e outros detritos na rua e no rio, conservando-os na mão, até encontrar um cesto de lixo.
Muitas outras ações e campanhas de responsabilidade social e de interesse comunitário são desenvolvidas a todo momento pela propaganda, seja para arrecadar recursos materiais e humanos para hospitais e centros de atendimento à criança e à velhice desamparada, seja para estimular as pessoas a crescerem como seres humanos de qualidade, no mais amplo sentido que o termo ser humano em si encerra. A propaganda faz tudo isso, mas não faz sozinha, porque "uma andorinha só não faz verão".
Todo e qualquer esforço para se realizar algum trabalho útil, que redunde em bons resultados e benefícios para a coletividade, só é possível quando se conta com a participação e o apoio de todos: indústria, comércio, poder público, meios de comunicação, enfim, de todos os que formam a comunidade em que vivemos.
A Federação Nacional das Agências de Propaganda e os Sindicatos das Agências de Propaganda dos Estados brasileiros onde esse texto está sendo publicado, as entidades do setor como ABA, ABAP, ANER, ANJ, ABERT, APRO, APROSOM, CENP, CONAR, as agências de publicidade, os meios de comunicação, todos os seus profissionais, posso garantir, têm plena consciência de suas responsabilidades e por isso mesmo estão sempre ao inteiro dispor de quem quiser trabalhar por ideias e campanhas que visem melhorar a qualidade da vida na terra, mar e ar e principalmente a vida do ser humano.

Publicado na Revista Algo Mais – Recife PE, em 01/nov/06.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Liberdade de expressão editorial e liberdade de expressão comercial: irmãs gêmeas. Inseparáveis.

A presidente Dilma Roussef, em seu discurso de posse, deu grande ênfase à liberdade de expressão, particularmente àquela que se refere ao aspecto editorial dos nossos meios de comunicação. E não é novidade para ninguém que isso só vai acontecer, se o Poder Público interferir o mínimo possível na pauta dos meios, principalmente eliminando atitudes de censura, como as que já vimos num velho e cansado filme dos "anos de chumbo", dos quais ninguém sente saudade alguma.

Mas tem uma outra liberdade que vai além do conteúdo editorial dos meios de comunicação, que é a liberdade de expressão comercial. Esta precisa receber o mesmo tratamento de respeito por parte do Poder Público, pois sem ela as informações sobre produtos e serviços de um modo geral acabam falseadas e mutiladas pelas imposições de Órgãos Públicos, que exercendo uma verdadeira censura, acabam reduzindo a qualidade da comunicação e interferindo nos resultados, que não são, nem devem ser outros que não os de bem informar o consumidor no seu processo de escolha de bens e serviços.

O bom senso nos mostra que liberdade de expressão editorial e liberdade de expressão comercial são irmãs gêmeas e só caminhando juntas poderão colaborar com a melhoria da qualidade da comunicação, esse fator de fundamental importância para o crescimento do país.

Com liberdade de expressão poderemos oferecer à nossa população o que há de melhor em todo o mundo.

Publicado nos jornais Diário do Pernambuco e Jornal do Comércio, Recife-PE, 3 e 4 de fevereiro de 2011.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O valor do trabalho

Lembro do tempo em que os office boys de agência de propaganda também passavam pelos estúdios e departamentos de arte, para lavar os pincéis, juntar lâminas gilette usadas, separá-las em metades. Elas eram os estiletes daquele tempo e fazer todo tipo de serviços para os redatores, layoutmen e arte finalistas. Garotos aplicados e eu era um desses, aprendíamos muitas coisas, como ver que tudo começava com um rough, seguido de um layout com letras marcadas a mão, um esmerado trabalho de produção gráfica e arte final de alta qualidade.
Toda aquela equipe empregava seus neurônios num serviço que demandava muito talento. Nossos profissionais já eram altamente criativos. Acho mesmo que tudo aquilo, acrescido do cheiro da cola michelim, é que nos viciava no amor à propaganda.

Mas tem uma coisa muito importante que as agências faziam naquele tempo: elas cobravam e os clientes pagavam um preço justo por todo aquele trabalho de criação e desenvolvimento de grandes ideias e soluções para a sua comunicação. A criação era, como ainda é hoje, a espinha dorsal da agência de propaganda.

Por isso, quando vejo hoje muitos falando das dificuldades em cobrar criação, e até alguns se oferecendo para não cobrar serviços internos como produção, finalização e outros serviços importantíssimos, fico seriamente preocupado e chego a me perguntar se esses serviços perderam valor...

Sinceramente, eu não acredito que isso tenha acontecido, e então pergunto novamente: como pode caber na cabeça de alguém que a agência não deva cobrar por esses trabalhos?

Publicado em Propaganda & Marketing em 13 dez 2010.

1º de fevereiro - Dia do Publicitário

Dia do publicitário e daí?

Dizem por aí, que publicitário gosta de aparecer.
Não é nada disso. Quem gosta de aparecer mesmo é o bom trabalho que fazemos. É só lembrar que Pirelli é mais pneu; que Omo lava mais branco; que não é nenhuma Brastemp; que cópia é Xerox; que Melhoral é melhor e não faz mal; que 9 entre 10 estrelas do cinema usam Lever (Lux); que se é Bayer é bom; que 51 é uma boa ideia...
É só lembrar dos milhares e milhares de ideias e soluções que o oficio de publicitário criou e continua criando o tempo todo, sem cessar.

Um grande abraço!

O anúncio abaixo foi criado pelo Sindicato das Agências da Bahia e é, em minha opinião, o melhor trabalho alusivo ao Dia do Publicitário, o que nos mostra que a Bahia continua nos dando régua e compasso - e talento, principalmente. O linque com as marcas Maizena, Coca Cola, Bombril, BIC, Chiclets, Havaianas e outros que não estão no anúncio é perfeito. Mais que perfeito.

A propaganda e a vigilância sanitária

Desde a mais tenra idade, a gente aprende que vigilância sanitária é um departamento ligado à higiene e à limpeza, portanto um setor do poder público, cuja tarefa é desenvolver ações para que os processos sigam corretamente em áreas em que limpeza e higiene sejam condições fundamentais para tal, como produção de alimentos, medicamentos, saneamento e assemelhados.
Lembro de uma vez, na cidade onde fui criado, no interior de São Paulo, a minha querida Pirajuí, em que agentes da vigilância sanitária entraram em uma conhecida sorveteria e encontraram algumas irregularidades em matéria de higiene.
Tiveram que lacrar a dita cuja. Foi uma verdadeira decepção, tristeza e comoção em toda a cidade, pois o sorveteiro era amigo de quase toda a população.
Depois daquilo, percebi que não só lá, mas em todo o Brasil era habitual a vigilância sanitária fiscalizar, multar e até lacrar hospitais e farmácias por falta de higiene na esterilização das seringas e materiais cirúrgicos; bares; postos de gasolina; pensões; hotéis e similares; além de outros locais de uso público, que eram sumariamente autuados por desleixo na higiene ambiental.

Então, quando vejo, hoje, um trabalho diferente de tudo isso que citei, limpo, sério e honesto como a propaganda - o meu trabalho - tendo que passar pelo crivo da vigilância sanitária, confesso que fico assustado.
Primeiro, porque já temos o crivo do Conar, que faz um trabalho brilhante de tirar de circulação todo tipo de propaganda que contrarie a ética, a decência, os bons costumes e os interesses do consumidor. Segundo, porque temos códigos de ética, normas e muita consciência profissional para tratar com absoluta seriedade aquilo que fazemos com muito amor e profissionalismo: comunicação mercadológica. E terceiro, porque vemos que, nem sempre, aqueles que exercem a censura têm a noção exata do que seja aquilo que estão censurando. Outro dia mesmo, vi um desses censores declarar em um programa de TV que os índios brasileiros passaram a beber álcool a partir do momento que viram os anúncios de bebida na televisão.
Ora, o nosso amigo parece não ter conhecimento de que os nossos índios já produziam uma aguardente fortíssima, chamada cauim, extraída da fermentação da mandioca e que, quando a esquadra de Cabral lançou suas poitas ao largo de Porto Seguro, os nossos inocentes silvícolas já enchiam a cara.
E, como sabemos, naquela época nem se falava em propaganda por essas paragens, muito menos em televisão.
Temos visto proibirem a venda de medicamentos em razão de suas contra-indicações. Fechar cozinhas de restaurantes e ações semelhantes. Isso é a verdadeira atividade da Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Então, que a vigilância sanitária faça o seu trabalho e deixe o nosso, que nós sabemos o que fazer.

Publicada originalmente no Correio Braziliense em 23 ago 2008.