quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O valor do trabalho

Lembro do tempo em que os office boys de agência de propaganda também passavam pelos estúdios e departamentos de arte, para lavar os pincéis, juntar lâminas gilette usadas, separá-las em metades. Elas eram os estiletes daquele tempo e fazer todo tipo de serviços para os redatores, layoutmen e arte finalistas. Garotos aplicados e eu era um desses, aprendíamos muitas coisas, como ver que tudo começava com um rough, seguido de um layout com letras marcadas a mão, um esmerado trabalho de produção gráfica e arte final de alta qualidade.
Toda aquela equipe empregava seus neurônios num serviço que demandava muito talento. Nossos profissionais já eram altamente criativos. Acho mesmo que tudo aquilo, acrescido do cheiro da cola michelim, é que nos viciava no amor à propaganda.

Mas tem uma coisa muito importante que as agências faziam naquele tempo: elas cobravam e os clientes pagavam um preço justo por todo aquele trabalho de criação e desenvolvimento de grandes ideias e soluções para a sua comunicação. A criação era, como ainda é hoje, a espinha dorsal da agência de propaganda.

Por isso, quando vejo hoje muitos falando das dificuldades em cobrar criação, e até alguns se oferecendo para não cobrar serviços internos como produção, finalização e outros serviços importantíssimos, fico seriamente preocupado e chego a me perguntar se esses serviços perderam valor...

Sinceramente, eu não acredito que isso tenha acontecido, e então pergunto novamente: como pode caber na cabeça de alguém que a agência não deva cobrar por esses trabalhos?

Publicado em Propaganda & Marketing em 13 dez 2010.

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