quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A propaganda e a vigilância sanitária

Desde a mais tenra idade, a gente aprende que vigilância sanitária é um departamento ligado à higiene e à limpeza, portanto um setor do poder público, cuja tarefa é desenvolver ações para que os processos sigam corretamente em áreas em que limpeza e higiene sejam condições fundamentais para tal, como produção de alimentos, medicamentos, saneamento e assemelhados.
Lembro de uma vez, na cidade onde fui criado, no interior de São Paulo, a minha querida Pirajuí, em que agentes da vigilância sanitária entraram em uma conhecida sorveteria e encontraram algumas irregularidades em matéria de higiene.
Tiveram que lacrar a dita cuja. Foi uma verdadeira decepção, tristeza e comoção em toda a cidade, pois o sorveteiro era amigo de quase toda a população.
Depois daquilo, percebi que não só lá, mas em todo o Brasil era habitual a vigilância sanitária fiscalizar, multar e até lacrar hospitais e farmácias por falta de higiene na esterilização das seringas e materiais cirúrgicos; bares; postos de gasolina; pensões; hotéis e similares; além de outros locais de uso público, que eram sumariamente autuados por desleixo na higiene ambiental.

Então, quando vejo, hoje, um trabalho diferente de tudo isso que citei, limpo, sério e honesto como a propaganda - o meu trabalho - tendo que passar pelo crivo da vigilância sanitária, confesso que fico assustado.
Primeiro, porque já temos o crivo do Conar, que faz um trabalho brilhante de tirar de circulação todo tipo de propaganda que contrarie a ética, a decência, os bons costumes e os interesses do consumidor. Segundo, porque temos códigos de ética, normas e muita consciência profissional para tratar com absoluta seriedade aquilo que fazemos com muito amor e profissionalismo: comunicação mercadológica. E terceiro, porque vemos que, nem sempre, aqueles que exercem a censura têm a noção exata do que seja aquilo que estão censurando. Outro dia mesmo, vi um desses censores declarar em um programa de TV que os índios brasileiros passaram a beber álcool a partir do momento que viram os anúncios de bebida na televisão.
Ora, o nosso amigo parece não ter conhecimento de que os nossos índios já produziam uma aguardente fortíssima, chamada cauim, extraída da fermentação da mandioca e que, quando a esquadra de Cabral lançou suas poitas ao largo de Porto Seguro, os nossos inocentes silvícolas já enchiam a cara.
E, como sabemos, naquela época nem se falava em propaganda por essas paragens, muito menos em televisão.
Temos visto proibirem a venda de medicamentos em razão de suas contra-indicações. Fechar cozinhas de restaurantes e ações semelhantes. Isso é a verdadeira atividade da Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Então, que a vigilância sanitária faça o seu trabalho e deixe o nosso, que nós sabemos o que fazer.

Publicada originalmente no Correio Braziliense em 23 ago 2008.

Nenhum comentário: