sábado, 12 de fevereiro de 2011

As crises de todos nós

São Paulo, março de 2009. Até parece que estamos irremediavelmente perdidos
O jornal da manhã, já na primeira página, fala em crise. O rádio, a TV, a Internet, o porteiro do prédio, o motorista do táxi, tudo e todos falam de crise com tanta veemência, que nem parece que na noite anterior nasceu uma linda criança no hospital X, que um seresteiro sonhador fez um grande poema, que um pesquisador está chegando perto de certa fórmula que vai resolver problemas de alzheimer, aids, câncer, fome e tantos outros males que estão dizimando a humanidade.

A palavra "Crise" é como uma desagradável música tocando o tempo inteiro em nossos ouvidos, como se fosse a trilha sonora de nossas vidas.

Ter medo de crise sempre foi uma característica forte de muito seres humanos, mas felizmente não de todos. Temos muitos exemplos de homens que nunca tiveram medo, que sempre enfrentaram as crises, mas eu vou me cingir a apenas dois desses bons exemplos.

Eu trabalhava na Editora Abril, nos anos sessenta e um dia estávamos uns quatro executivos no café, lamentando antecipadamente as consequências de uma crise brava que nem havia começado. Nisso chega Victor Civita, “seu Victor”, como todos o chamávamos e entra na conversa. Acho que percebeu o exagero das nossas preocupações e pediu um fascículo que eu tinha na mão, para dar uma olhada. Falou um pouco sobre a importância daquela pequena publicação estar sempre analisando todos os setores de nossa economia, e nos disse o seguinte: rapazes, crise a gente enfrenta trabalhando muito, criando produtos de qualidade, investindo e confiando no pais onde nascemos ou então naquele que nos acolhe como este nosso Brasil fez comigo. Pagou o café e foi embora. Pouco tempo depois o Brasil ganhava Exame, uma grande revista de economia...

Acho que aprendi aquela lição, tanto que em minhas palestras e textos que escrevo em alguns jornais de todo o país, vivo dizendo que “Crise é véspera de solução...”

O outro exemplo, bem semelhante ao de “seu Victor” nos é dado pelo cientista Albert Einstein, num texto em que o mestre critica os medos, a covardia de muitos e define o que ele entendia como crise.

"Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e empresas, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É nas crises que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar "superado". Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos pa­íses é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la"

Interessante é que tanto no exemplo do “seu Victor” há mais de 50 anos, como no de “seu Einstein” que morreu em 18 de abril de 1955, vemos exemplos de homens que sempre viveram enfrentando e vencendo crise em cima de crise.

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