quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Crise: tem gente que gosta

Enquanto a maioria perde com as crises, uma minoria de velhacos ganha muito com elas. É a miséria de muitos, enriquecendo e beneficiando alguns.

Outro dia, lendo uma notícia da coluna policial, leitores acostumados com a variada gama de marginalidade que é estampada diariamente nas páginas dos nossos jornais ficaram petrificados quando souberam que a polícia desbaratou uma quadrilha que estava abrindo “contas Mandrake” na rede bancária para receber doações às vítimas das enchentes de Santa Catarina. Um gesto “humanitário”, em seu próprio benefício, é claro, pois que iria resolver apenas os seus problemas pessoais de dinheiro. “As vítimas, danem-se” disse um dos meliantes ao ser preso. O fato é que já estavam com a estrutura pronta para entrar em outros Estados, pois é mais do que sabido que as chuvas de verão, anualmente, causam danos irreparáveis e quase iguais àqueles de Santa Catarina aos Estados do Rio de Janeiro, Minas, Espírito Santo e outros, o que acaba vitimando muita gente, como infelizmente já está acontecendo com os fluminenses, capixabas e mineiros. O caso das tais contas bancárias é o mais puro e deslavado episódio de estelionato e teve o desfecho merecido. Os criminosos já estão presos. Se vão ser condenados, aí é outra conversa.
Mas tudo isso não é muito diferente daquilo que já vem sendo perpetrado por pessoas e empresas em nível nacional e até internacional, estimulando e capitalizando a seu favor uma onda de informações sobre uma possível crise que já começa a dizimar a economia de alguns países que não vamos citar aqui porque, felizmente, não é o nosso caso.
Entre nós, já há alguns empresários, se é que podem ser tratados com esse título, donos de empresas que estão tirando vantagens e benefícios de uma crise que ainda não chegou até as nossas plagas e, se chegou, não foi da forma exagerada que esses facínoras estão utilizando para, repito, tirarem vantagens. Em nossa área, a propaganda, por exemplo, já há alguns - felizmente poucos - clientes de agências pressionando estas para rebaixarem os preços de seu trabalho. É a crise, é a crise, dizem, para justificar certas ações; clientes que vêm operando à base de um fee espúrio e negociado ontem a seu favor, hoje estão propondo reduzir ainda mais o valor de tal fee, proposta que, se aceita pelas agências, vai mandar a rentabilidade delas para o ralo.
E o que é mais grave é que a agência e o cliente sabem que quanto mais os preços de um trabalho são vilipendiados, menor é a possibilidade de se contar com um serviço de qualidade.
Este é apenas um simples exemplo do que já está acontecendo entre nós. Só espero que nos sirva como uma reflexão, porque, se com a crise que ainda não se instalou entre nós, já tem gente fazendo isso, se ela se instalar - o que eu não acredito - quem der muito hoje não vai ter o que dar amanhã.

(Publicado em Propaganda e Marketing e Correio Brasiliense - 22/12/2008).

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