domingo, 19 de julho de 2015

De 1960 a 2015

Se eu estivesse em Cannes, no festival de junho,  teria subido ao palco para dar um abraço em Amir Kassaei, pela palestra na qual ele teve a coragem de dizer que “A propaganda está perdendo a relevância e se deslocando da realidade,  esquecendo do verdadeiro consumidor que está nas ruas, para quem muitas coisas consideradas criativas hoje já não fazem sentido”.

Se ele estivesse falando sobre a a propaganda brasileira, poderia dizer, também, sem nenhum medo de errar, que ela  está esquecendo de si mesma, de seus valores e de sua relevância.

Ele teve a coragem de apresentar, num  telão, o célebre anúncio em que a grande DDB – Doile, Dane & Bernbach Inc., no início dos  anos 1960, propunha  que se resgatasse o sentido da propaganda.
O célebre anúncio chamava o leitor a refletir sobre verdades e outros fatores importantes que não se colocavam nos anúncios de certos produtos, porque simplesmente  tais verdades não existiam e ia ainda mais longe,  ao vaticinar, numa provocação: “se não aprendermos a lidar com isso,  morreremos  todos.”

Sinceramente, eu acho que seria oportuno alguém fazer hoje um manifesto semelhante, na forma de anúncio, comentando os acontecimentos que estão levando a nossa atividade no Brasil a um nível muito abaixo do lugar de respeito e  destaque que sempre teve. Esses tristes acontecimentos estão aí e todos sabemos quais são, eu só não os escancaro aqui, neste humilde texto, porque não sou nenhum sr. Doile, nem o sr. Dane e muito menos o senhor Bernbach; eu sou apenas um velho publicitário com mais de 60 anos de trabalho, tentando fazer alguma coisa útil pela nossa atividade.

Os acontecimentos que estão provocando o desmanche no nosso negócio estão aí, repito, e se ampliam cada vez mais, com mais intensidade, como tudo o que é ruim.

Só ouso afirmar, em meu nome pessoal,  que: ou tomamos uma atitude ou morreremos todos, como já vaticinava a grande DDB há quase 60 anos.

Publicado no editorial de Propaganda & Marketing edição de 13 de julho, 2015

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