Se eu estivesse em Cannes, no
festival de junho, teria subido ao palco
para dar um abraço em Amir Kassaei, pela palestra na qual ele teve a coragem de
dizer que “A propaganda está perdendo a relevância e se deslocando da
realidade, esquecendo do verdadeiro consumidor
que está nas ruas, para quem muitas coisas consideradas criativas hoje já não
fazem sentido”.
Se ele estivesse falando sobre a
a propaganda brasileira, poderia dizer, também, sem nenhum medo de errar, que
ela está esquecendo de si mesma, de seus
valores e de sua relevância.
Ele teve a coragem de apresentar,
num telão, o célebre anúncio em que a
grande DDB – Doile, Dane & Bernbach Inc., no início dos anos 1960, propunha que se resgatasse o sentido da propaganda.
O célebre anúncio chamava o leitor
a refletir sobre verdades e outros fatores importantes que não se colocavam nos
anúncios de certos produtos, porque simplesmente tais verdades não existiam e ia ainda mais
longe, ao vaticinar, numa provocação:
“se não aprendermos a lidar com isso,
morreremos todos.”
Sinceramente, eu acho que seria
oportuno alguém fazer hoje um manifesto semelhante, na forma de anúncio,
comentando os acontecimentos que estão levando a nossa atividade no Brasil a um
nível muito abaixo do lugar de respeito e
destaque que sempre teve. Esses tristes acontecimentos estão aí e todos
sabemos quais são, eu só não os escancaro aqui, neste humilde texto, porque não
sou nenhum sr. Doile, nem o sr. Dane e muito menos o senhor Bernbach; eu sou
apenas um velho publicitário com mais de 60 anos de trabalho, tentando fazer
alguma coisa útil pela nossa atividade.
Os acontecimentos que estão
provocando o desmanche no nosso negócio estão aí, repito, e se ampliam cada vez
mais, com mais intensidade, como tudo o que é ruim.
Só ouso afirmar, em meu nome
pessoal, que: ou tomamos uma atitude ou
morreremos todos, como já vaticinava a grande DDB há quase 60 anos.
Publicado no editorial de Propaganda & Marketing edição de 13 de julho, 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário