sexta-feira, 4 de março de 2011

Qual a influência da propaganda no consumo de bebidas alcoólicas na adolescência e juventude?

Em julho/agosto de 2007 O Jornal do Brasil publicou uma série de entrevistas sobre esse tema e a mim coube a pergunta acima, que já respondi muitas vezes para vários meios de comunicação. Por isso me permito responder agora de uma forma diferente da que tenho feito normalmente. Então pergunto.

O que a sociedade oferece hoje para as nossas crianças, adolescentes e juventude?

Todos sabemos o que ela não oferece, que são os direitos básicos assegurados pela Constituição, mas vou citar apenas alguns desses direitos, para não me tornar prolixo e tedioso, pois essa questão é sobejamente discutida em quaisquer programas de televisão, rádio, jornal, no metrô, no ônibus, no trabalho, no restaurante, no café e até entre as famigeradas torcidas de futebol.

A sociedade não oferece em escala minimamente nescessária:

Alimentação – Não basta ter um prato de arroz, feijão e farinha. É fundamental ter os elementos básicos que transformam a alimentação em energia para a vida e dentre os elementos faltantes, podemos incluir não só a comida, mas um outro que é extremamente importante: uma família estruturada, para comer junto, ou no mínimo ter um adulto para preparar a alimentação de crianças que ficam confinadas num cubículo de favela entregues à própria sorte ou mesmo num palácio, mas nesse caso, entregues a gente sem a menor qualificação profissional.

Saúde – Mãe deprimida, pai desempregado e alcoolatra. Nesse caso o problema passa a ser genético e beber e fumar, para uma crianç,a é parte integrante de seu sangue e de sua vida. Com o trabalho da mãe pagam INSS, mas necessitariam ter um convênio dos mais baratos possíveis, para que fossem razoavelmente atendidos nessa necessidade básica e garantida pela Constituição Brasileira.

Moradia – o saudável para uma família, seria aplicar no máximo 25% de sua receita em moradia, mas na verdade, esse importante insumo consome mais de 60% da renda. E aí tome favela, ou outra submoradia qualquer, porque, ou come ou se esconde: da noite, do frio, da chuva, do ladrão.

Transporte – Os órgãos municipais de todo o Brasil garantem transporte gratuito para crianças e adolescente que morem a uma certa distância da escola, só que os equipamentos e a frota de ônibus, geralmente em péssimas condições, não comportam o número de alunos. Isso sem contar uma maioria de motoristas totalmente despreparados para transportar seres humanos, crianças, principalmente. E o que acontece é que dentre de uma legião de crianças esse motorista acaba escolhendo quais leva e quais não leva para a escola.

Segurança – O volume de crimes contra crianças e adolescentes aumenta diuturnamente de forma assustadora. É só ver os casos de pedofilia, estupro, infiltração de criminosos nas instalações da escola e o descaso de quem deveria cuidar de coibir isso. O que o Estado pode fazer para equacionar o problema?

Educação – Considerando que a educação começa em casa e é completada pelo ensino na escola, como é que alguém envolvido num contexto como esse está preparado para aprender ou mesmo para ensinar alguma coisa?

Resumindo: os problemas relacionados à alimentação, saúde, moradia, transporte, segurança e educação, para citar só esses, não são infortúnios apenas dos menos favorecidos financeiramente, mas de todos, pois em algum momento, acabam pagando um preço alto por esse abandono.

Mas a pergunta era sobre a influência da propaganda nos males da bebida...

Considerando tudo isso, ouso afirmar com a mais absoluta segurança que, ainda que a propaganda pudesse influenciar nesse sentido, não sobraria espaço para ela, uma vez que o descaso e a impunidade que grassam no país já se incumbiram de prestar esse e outros desserviços.

Ainda falando sobre propaganda, um outro aspecto que não podemos deixar de considerar é que o Estado, através de seus órgãos censores ou controladores, sempre procura imputar à propaganda a culpa pelos males da bebida, do fumo e de outras mazelas da humanidade, quando na verdade o Estado deveria, já que tais produtos são tão nocivos à saúde da população, criar coragem para proibir sumariamente sua fabricação.

Uma última pergunta: O Estado teria coragem de abrir mão das polpudas taxas arrecadadas a todo instante, em cada tragada no cigarro, ou em cada gole de bebida?

Encerrando, eu só gostaria que não imputassem à propaganda, a culpa por tudo isso.

Publicado no Jornal do Brasil, em série de artigos publicados entre julho e agosto de 2007

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