segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mesas de Compra, Bureaux de Mídia, Bolseros...

Em 24 de novembro de 2002, o nosso Propaganda & Marketing publicou um artigo no qual eu falava do sofrimento de um publicitário argentino que não conseguia mais negociar com seus clientes, porque os “bolseros,” uma espécie piorada de "bureaux" de mídia daquele país, destruíram a relação de sua agência com um de seus mais importantes clientes. O arrocho pela rebaixa de preços na compra de espaço foi tão grande, que acabou se transformando num negócio direto entre anunciante e veículo. A partir daí, esse mesmo cliente passou a empregar a mesma técnica, para forçar a agência a rebaixar seus preços de criação, produção e até a repassar para sua caixa registradora uma grande parte dos honorários de veiculação pagos pelos veículos.
A agência, para não perder o cliente, aceitou as regras desse jogo maldito, e foi obrigada a reduzir seus ganhos, trocar seus profissionais por outros, de preço e de qualidade inferiores.
Falando agora com esse mesmo amigo, até para ver qual foi resultado, soube que ele fechou as portas de sua empresa e hoje trabalha numa outra, que sempre foi maior do que a sua. Essa atual agência resistiu até meados deste ano de 2009, mas com certeza não vai aguentar a mesma pressão que ele sofreu em 2002. Não deverá ir muito longe, pois já está trilhando o mesmo caminho de redução de custos, contratação de mão obra inferior, redução de salários, repasse de honorários de veiculação e, lamentavelmente, deverá ser mais uma boa agência a encerrar suas atividades.
Isso é uma prova irrefutável de que a pressão pela rebaixa de preços enfraquece sempre a parte mais fraca, nesse caso, a agência, que vê seus valores não só financeiros, mas principalmente sua dignidade e seus históricos valores morais e profissionais serem dilapidados por um implacável comprador, que só sabe comprar preços e descontos, e não percebe o mal que está fazendo à sua própria empresa, como anunciante, que a partir daí, não mais terá moral para exigir a qualidade que vinha recebendo, enquanto reconhecia e pagava o preço justo e honesto pelo trabalho do outro.
No Brasil, o setor de mídia de nossas agências está muito bem estruturado, e conta com profissionais da alta qualidade em todos os escalões e insisto que aqui não precisamos de bolseros, bureaux e mesas de compra.
Vejo com séria precupação que as mesas de compras de que tanto se fala atualmente, se pegarem, vão se prestar apenas para enfraquecer um dos lados, a agência e, convenhamos amigos, parceiro fraco não é bom parceiro.

(Publicado originalmente em: Propaganda& Marketing, out 2009).

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